Uma infeliz coincidência eu ter lido a matéria abaixo, que saiu no Globo segunda-feira, 15/10, após ter tido a mesma impressão dias antes.
Semana passada, estava pesquisando bibliografia para uma disciplina que vou lecionar em Novembro próximo. Apesar de usar a Internet para quase tudo na vida, em casos como este não dá pra fazer pela Internet, tem que pegar o livro, folhear, estudar seu conteúdo pra decidir se vai ser adotado ou não.
Fui a uma livraria perto da Task, chamada GAM, aqui na Rua Guajajaras, entre Espírito Santo e Rio de Janeiro, onde pesquisava e comprava livros durante a época do mestrado e no início da docência. Fechou. Sabia que não ia encontrar, mas mesmo assim, arrisquei ir às Leituras Megastores da vida, onde vendem livros "o que aprender com os gansos" e coisas parecidas. Nada.
Vi que alguns dos livros estavam no site da Saraiva. Só que a Saraiva tem lojas em 9 estados brasileiros, mas não em Minas...
Por fim fui à excelente Livraria do Psicólogo e do Educador, na Floresta, mas não encontrei o que procurava, até pelo fato da especialidade dela ser outra, não a culpo.
E aí? Para onde estamos andando? As lojas de CD desapareceram por causa da Internet, pode-se ouvir trechos, comprar mais barato, receber em casa, etc (sem citar a pirataria), mas livros? A culpa é da Internet? Ou nós, brasileiros (mineiros, sobretudo), não lemos?
É muito triste constatar que há relação entre a dificuldade pela qual passam as livrarias, a dificuldade que os poucos leitores de livros passam para encontrar seus livros e a queda crescente na qualidade da educação (e a história de não reprovar o coitado do aluno pra ele não ficar triste e abandonar a escola...).
Basta ver o show de horror que são os e-mails que recebemos diariamente. Achar uma pessoa que escreva corretamente numa empresa é tarefa difícil hoje. Há textos em que nós não conseguimos identificar nem que assunto a pessoa está abordando, parece outro idioma. Vejam neste site as pérolas que acham no Orkut e riam - ou chorem.
Conversando com Dona Lili, mãe da minha deusa-namorada Bia e professora da rede pública, fiquei horrorizado (ainda consigo) ao saber que, por mais que ela tente fazer os alunos lerem, usando muita inteligência e criatividade, eles simplesmente não conseguem mais ler. Parece uma capacidade que biologicamente está sendo perdida... por falta de uso. Darwin teria que rever seus estudos, essa é a INvolução da espécie.
Enquanto isso, não há um elevador, um ponto de ônibus, um escritório onde não se ache um "jornal" Super ou equivalente, com conteúdo pra lá de duvidoso.
Não sei... tá difícil. Qual a solução? Vamos colocar na conta do governo como sempre? Adianta colocar livro a R$ 10, será que as pessoas vão ler? Nunca vou me esquecer de uma amiga de infância que declarou, provocativa e confiante, já com seus 18 anos de idade: "eu não tenho coragem de dar dinheiro em um livro". Isso aconteceu há 15 anos, foi a primeira vez que percebi que tinha algo de muito errado com a geração que estava sendo formada.
Leiam a matéria abaixo e fiquem a par da situação tenebrosa do mercado de livrarias.
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A indústria das livrarias está em extinção
Das 2.600 livrarias brasileiras, 70% são de pequeno e meio portes, com um faturamento mensal entre R$ 35 mil e R$ 45 mil. Este é um dos dados que compõem o "Diagnóstico do Setor Livreiro no Brasil", em fase final de compilação, que a Associação Nacional de Livrarias (ANL) desenvolve. O ganho bruto destes estabelecimentos gira por volta de 25%, com um lucro – tudo correndo sem problemas – de 5%, ou seja, R$ 2.000,00, muito aquém do ideal. Infelizmente, percebemos que cada vez menos empresários buscam investir num negócio que exige muito trabalho, esforço pessoal e com um ganho real tão baixo.
Recente pesquisa do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) reforça esta nossa percepção. O Instituto anunciou que, entre os anos de 1999 e 2006, o número de municípios que possuem livrarias no país caiu 15,5%. Em 2006, elas estavam presentes em apenas 30% dos 5.564 municípios, enquanto que em 1999 este percentual era de 35,5%.
O diagnóstico da ANL localizou cerca de 2.600 livrarias em todo o território nacional — importante destacarmos que consideramos para este número as livrarias com uma média entre 10 e 15 mil livros em exposição. Deste total, 53% estão localizadas no Sudeste; 15% no Sul; 20% no Nordeste; apenas 5% no Norte; 4% no Centro-Oeste e 3% no Distrito Federal. Segundo estatísticas da ONU, o ideal para um município é uma livraria para cada 10 mil habitantes. No Brasil, um número perto do razoável seria de 4.900 livrarias. Estamos muito longe desta realidade: num estado como Rondônia, por exemplo, com 657.302 mil habitantes, temos apenas quatro livrarias; em São Paulo, detectamos 676 para 40.000.056 habitantes.
Este quadro atual do segmento livreiro acaba criando uma ‘ciranda negativa’. Menos livrarias, menos pontos de vendas para $exposição dos mais de dois mil títulos lançados mensalmente pelas editoras brasileiras, fazendo com que as editoras diminuam cada vez mais a tiragem dos livros — com exceção de poucos best-sellers — que hoje giram em torno de 1.500 a 2 mil exemplares na primeira edição. Automaticamente, o preço do livro, em escala, acaba acima do desejado, diminuindo o número de leitores. Para o segmento como um todo, que emprega por volta de 35 mil profissionais livreiros diretos, o comprometimento do Estado em leis que regulamentem o setor, sem dúvida, faz-se necessário para a sua manutenção, principalmente para as independentes.
Entre as diversas ações em debate durante a recente 17 Convenção Nacional de Livrarias, discutiu-se a consolidação de leis que venham a proteger o segmento livreiro, principalmente as de pequeno e médio portes. Projetos de lei que regulamentem a política de vendas, onde todo o setor possa atuar e trabalhar em igualdade de condições nas práticas comerciais, evitando desta forma o prejuízo de toda a cadeia livreira.
Acreditamos que, no prazo médio de dez anos, com uma atitude mais direta por parte do governo federal, podemos aumentar o número per capita de leitura por brasileiro, que hoje é de menos de dois livros por leitor, por ano, para 3,5, invertendo o caminho negativo atual. Aumentando o número de livrarias elevaria automaticamente a tiragem da edição para 4 mil exemplares por lançamento, o que levaria à diminuição do preço final do livro. Ou corremos um sério risco, muito real, de extinção das pequenas e médias livrarias independentes. Já vimos este filme, não faz muito tempo, no segmento de discografia, quando desapareceram as melhores lojas de discos e de cds especializadas e independentes do país.
Vitor Tavares é presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL). Este artigo foi transcreito de O Globo de 15/10/2007
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Um comentário:
Tales, meu amigo.
Quando o assunto é leitura de livros, me sinto um ignorante completo, e digo isso simplesmente porque não tenho o hábito de ler. Raramente leio um livro, e quando o faço são exclusivamente livros de conteúdo técnico e mais recentemente livros com foco em gestão administrativa ou de pessoas.
Acredito que a dificuldade das livrarias realmente chegaram com a popularização da internet, e infelizmente a falta de controle da rede permite a publicação de qualquer porcaria. Aliado a isso temos as gírias e as abreviações que passam a substituir as palavras de fato. Acho que daí as dificuldades da juventude atual em escrever qualquer texto de maneira compreensível.
É lamentável realmente perceber que estamos nessa situação. E não vejo outro culpado senão o próprio povo brasileiro. Que o governo não possui ações efetivas em benefício da educação, todo mundo sabe, mas o que fazemos em contrapartida?
Abraço!
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