10.4.11

Ozzy em BH - uma resenha apaixonada

Resolvi seguir o exemplo do meu amigo @raphaelhagi, que costuma fazer uma resenha dos shows que presencia, principalmente do Iron Maiden, e registrar aqui minhas impressões sobre o show do Ozzy 'Príncipe das Trevas' Osbourne no (lamentável, como sempre) Mineirinho, em BH, 09/04/2010.

Primeira coisa a registrar é que, pela primeira vez (com o perdão da redundância) que deixei pra comprar ingresso de última hora. Vários fatores, como a indecisão da minha esposa sobre ir ou não, ver se conseguir autorização judicial (não consegui) pra levar meu caçula ao show, etc, fizeram com que eu só adquirisse de fato o ingresso na sexta, véspera do show. Paguei muito mais por isso, mas aprendi. Sem detalhes sobre o processo, não é o objetivo.

Como sempre acontece em shows de metal, que frequento desde 1989, quando entrei na faculdade, o clima é de paz, confraternização e, principalmente em BH, alegria por ter acesso a um show de rock pesado, em uma cidade onde parece que é obrigatório gostar de axé, sertanejo e forró. Se dizemos que vamos a um show de metal - e que vou levar o filho -, ouvimos: 'você tem coragem? Não tem muita briga não? Muita droga?'.

Registro aqui o que digo sempre: NENHUM SHOW TEM MENOS DROGAS E MENOS VIOLÊNCIA QUE UM SHOW DE HEAVY METAL. São 22 anos, foram raríssimas as vezes em que o clima pacífico foi quebrado, normalmente por algum playboy que resolve ir porque tá na moda (como em Metallica, ou coisa parecida), fuma maconha demais e resolve provocar todo mundo. A regra é paz total, quando comecei a levar meu filho então, com 9 anos, é uma festa geral, recebia parabéns, a galera se oferecia pra ir pegar refri pra ele, comida, etc.

Realmente me sinto muito bem em shows de metal. Me sinto bem já na chegada, vendo aquela galera fanática, andando em direção ao lugar. Me sinto bem na fila, na escolha do lugar, na espera, durante o show. Um momento de realização, de verdade, de alegria por ter escolhido um caminho musical que carrega junto uma atitude de celebração e paz.

Vamos ao show em si. Como já sabemos, Ozzy - e vários artistas atualmente - começa o show pontualmente. A história de atrasos de 2, 3 horas, é coisa do passado. Sabendo disso, chegamos cedaço porque escolhi ir de arquibancada pra garantir visibilidade ao meu filhão de 12 anos. Louco pra voltar pra pista :) Escolhido o lugar (bem longe do lugar onde ficamos no Maiden, de frente para o palco, onde o som chega monstruosamente ruim), aguardamos uma meia hora, assistimos ao show da banda Hibria que, a despeito do som, pareceu ser bastante competente na linha Helloween que escolheu. Vou acessar o site deles e tentar ouvir algo.

Não sei se é porque já escutei centenas de vezes os CDs eo DVD de 2002 e fui ao show no Rio em 2009, mas estranhei não começar com 'I don't Know'. 'Bark at the moon' foi legal pra começar, Ozzy é muito cativante, desde o primeiro minuto conquista até aqueles que estão lá só porque alguém falou que seria legal. Havia, sim, alguns playboys desses de cabelinho com gel, malhadinhos, sem camisa, com tatuagem japonesa e cueca aparecendo, mas foram poucos e não incomodaram ninguém, exceto por cantar tudo errado :)


A segunda música foi 'Let me hear your scream', péssima como 99% do que Ozzy fez de 1982 pra cá. Pelo menos, num raro exemplo de bom senso, ele reconhece isso e só tocou essa porcaria do disco novo ('Scream'), e o resto do show foram só clássicos, a maioria com mais de 30 anos. Prefiro isso a ver um Iron Maiden gastar uma viagem ao Brasil pra tocar o horroroso 'Final Frontier'. Só o Hagi mesmo...

A essa altura, minha esposa já estava apaixonada pela gentileza, empolgação e carinho do Ozzy com o público ('príncipe das trevas nada, ele é um ursinho') :) Ozzy parece sempre curtir cada música, sorrindo generosamente, interagindo com o público 100% do tempo, fazendo mais polichinelos que qualquer professor de academia - como sempre, uma resposta aos manés que vêm com o clichê de que ele está morrendo, não consegue mais andar nem cantar, etc). Um showman, o maior de todos, vale cada centavo.

'Mr. Crowley' coloca fogo no Mineirinho pela primeira vez (em várias) na noite. A clássica canção que imortalizou o saudoso Randy Rhoads e inaugurou o estrelato de Ozzy em carreira solo, em 1980, levou o Mineirinho abaixo. Sentimos saudades dos malabarismos de Zakk Wylde, que deixou a banda recentemente. O novo guitarrista é competente, mas não é nada perto de Zakk, que pra alguns chega a irritar de tanta gracinha que faz com a guitarra, além das tradicionais cuspidas. Bola pra frente, bem-vindo Gus G, a responsabilidade é grande. Nota engraçada é que Ozzy tentou fazer a galera gritar o nome dele uma hora, mas o som era tão ruim que quem não sabia seu nome (como eu), não entendeu nada e fez só barulho genérico.

'I don't know' segue incendiando o público, as músicas do Ozzy parecem perfeitas para interagir com a platéia: trechos de voz intercalados com riffs em que ele aproveita pra mandar todo mundo bater palma, gritar 'oi oi oi', etc. Não sei em que momento começou, mas Ozzy ficou louco com a galera gritando 'olê olê olê olê... Ozzêêêê Ozêê :) Os gringos adoram esse 'olê olê'.

'Fairies wear boots' foi o primeiro momento Black Sabbath da noite. Prefiro esse show com 5 músicas do Sabbath que os outros que incluem mais músicas novas ou pós-1981, mas essa, do repertório, é a que menos gosto. Bem psicodélica, combinava com Sabbath, mas não combina com o showman Ozzy de 2011. Talvez tenha sido o momento mais frio do show. Ou menos quente, porque o show foi delirante o tempo todo.

Ops, me engano. 'Suicide solution' foi a pior do show. Acho essa música fraca desde sempre, não entendo porque Ozzy insiste em mantê-la no setlist, talvez porque tenha marcado sua carreira pelo episódio em que a polícia dos EUA quis culpá-lo porque um maluco se suicidou ouvindo esta canção. Ele enfrentou um longo processo, descrito em sua biografia ('Eu sou Ozzy'). Fraca demais.

Eu sempre acho que, fora Mr. Crowley e a abertura, o show pega fogo (estou usando esta expressão o tempo todo, mas não há outra que descreva melhor o que é Ozzy Osbourne) depois que toca Suicide Solution. A partir daí, normalmente, só clássicos.

Vieram então a quase-balada e já figurinha carimbada em shows 'Road to Nowhere' e o Mineirinho desaba pela segunda vez na noite com 'War Pigs', dos tempos de Sabbath. Indescritível, o início com as sirenes, a galera que não conhece olhando para os lados, fantástico. Segue com 'Shot in the Dark', música média pra fraca mas que, dada a ruindade das músicas pós-1981 ou 1982, segue no setlist ainda provocando algum frisson.

Aí vem a novidade dos shows do Ozzy: uma instrumental pra ele ir descansar. Ao invés de só solos, a grande 'Rat Salad', do Sabbath, entremeada por um solo performático, mas previsível - dentro da grandeza que se espera de guitarristas do Ozzy - de Gus G, e de um surpreendente, incrível, pesado, brutal solo de bateria de Tommy Clufetos, que substituiu o ex-Faith no More Mike Bordin nas baquetas do madman. Desde o início, chamei a atenção para Artur, meu filho, sobre a força com que o cara soca a batera, e no solo então foi um delírio total, o cara é um monstro.


O texto já está muito grande, só posso dizer que 'Iron Man', 'I Dont' want to change the world' e a mega-clássica 'Crazy Train' continuaram o espetáculo delirante que fez com que todos, TODOS cantassem ou tentassem cantar o tempo todo, batessem palmas e seguissem todas as ordens do mestre, sem perder o pique.

Tradicional 'if you ask me one more song, I'll play for you', que a galera de BH não entendeu e só gritou 'ÊÊÊÊÊÊÊ', e vem o bis com a lenta 'Mama I'm coming home' e a destruidora, maior de todas, imortal 'Paranoid'. Fim do show com setlist definido, sem nenhuma surpresa, tudo cronometrado mas nem por isso menos histórico e inesquecível.

Cada show do Ozzy eu costumo encarar como uma oportunidade que pode ser a última. Pela vitalidade que ele mostrou ontem, acho que vai continuar nos surpreendendo.

A galera metal de BH talvez não merecesse um show desses, porque o do Maiden em 2008 não encheu, todo mundo fica reclamando que não tem show de nível, mas na hora reclama que tá caro, que Mineirinho é ruim, etc. Não interessa, de fato é o pior lugar do mundo pra ouvir música, mas tem que ir. Só assim virão outros.

Fantástico. Só isso. Quem foi não vai esquecer. E pela cara do Ozzy, ele também gostou bastante, de verdade.

Abaixo, pra não passar batido, fotinhas da galera que é minha vida - faltou meu caçula que, já prometi, estará conosco no próximo do Matanza em BH. Artur, Bia, Marquim e eu.