29.1.07

Tentando voltar + doação de sangue

Peço desculpas aos gatos pingados que vêm aqui ao blog procurar algumas polêmicas de vez em quando pela falta de posts nos últimos dias, mas tirei uns dias de "férias" pra acelerar e acabar a minha dissertação do Mestrado, e fiquei meio fora do ar.

Também não tenho visto muita coisa nova que valha a pena ser comentada. O futebol está voltando devagar, a F1 não voltou, não há nenhuma polêmica política, de muito interessante foi a aquisição da Blockbuster Brasil pelas Lojas Americanas há alguns dias.

Esta ação é mais um indicativo na tendência "pra dentro de casa" das grandes redes hoje. As LA, mais que o mercado de vídeo, estão de olho nas lojas da Blockbuster em todo o Brasil, para abrirem as suas Lojas Americanas Express (acho que será este o nome), versões menores pra atender ao público local, vendo o sucesso das redes de supermercados e serviços voltados para os bairros (Super Nosso, Mart Plus, Verde Mar, e por aí vai), e não mais em grandes e distantes shopping centers. Ou dos bancos, se dizendo "próximos do cliente" ("Banco da Ana") :-)

Eu acho bom demais, tudo o que der pra fazer a pé, valorizar os bairros e aquecer o mercado local, eu dou a preferência.

Retorno hoje com algumas idéias na cabeça, mas por enquanto fica só o pedido pra doação de sangue (já tinha pedido a todos que o fizessem como voluntários), agora para o pai do meu amigo Vini. Quem quiser mais informações para ajudar, clique aqui para o post no blog dele sobre o assunto.

25.1.07

É muita cara de pau!

Depois de passar anos brigando contra a Anatel pra não prestar nenhum tipo de serviço adicional ao consumidor, como o detalhamento de fatura, a pior empresa do mundo, a Telemardita, ou Telem*rda, aquela campeã de reclamações, a que tem stand próprio em todos os juizados de consumo pelo Brasil afora, a que tem um time de advogados em cada cidade com metas de acordos e ressarcimentos a cumprir, como se fosse um vendedor de produto ou serviço, agora vem com essa:


Mais uma vez tenta iludir o consumidor, fazendo-se passar por boazinha, como se estivesse atendendo a um pedido e não a uma determinação da Anatel que vale pra todas as operadoras.

Como faria bem uma concorrência na telefonia fixa. Essa empresa ridícula iria à falência em 1 ano.

23.1.07

Definitivamente, preço NÃO é tudo!

Nunca gostei de guerra de preços, por mais que o consumidor saia beneficiado. Isso costuma esconder alguma coisa, ou é porque as margens estavam muito altas antes (e eu me sinto lesado), ou é porque alguém grande quer tirar o outro do mercado, fazendo dumping (além de ser ilegal, mas quase nunca punido, é coisa típica, por exemplo, da Telemar e eu odeio isso) .

Mas eu simpatizava com essa propaganda do Ricardo Eletro de "Preço é tudo". Meio amadora, como é amador/infantil esse negócio de "Eu sou o Ricardo, negocie comigo", mas era engraçado. E significava alguém novo balançando o mercado, isso é saudável quando não é nenhum gigante, multinacional detonando tudo quando chega.

Só que os caras são MUITO RUINS de serviço. Primeiro fazem uma "loja virtual" na Internet que é uma piada. Os e-mails de confirmação de pedido são toscos, mal-escritos, com cara de spam de hacker analfabeto, com links quebrados. A parte de acompanhamento de pedido no site não funciona. Ainda assim, quando minha mãe ou minhas irmãs me pedem pra comprar pra elas alguma coisa lá, eu faço. Mas agora acabou

Foram 3 compras. As 3 deram merda. Uma veio uma TV estragada, levaram uns dois meses pra trocar. A segunda eu não lembro, elas fizeram direto sem mim. A terceira agora foi uma vergonha: minha irmã comprou um fogão e geladeira, com prazo de entrega de 8 dias úteis. Tentei acompanhar o pedido pela web, não deu. Liguei pro telefone que está no site, dá ocupado religiosamente até as 18h. A partir de 18:00:01 ninguém atende. Funcionários dedicados!

Mandei e-mail. Não responderam. Depois de alguns dias, me ligaram pra confirmar endereço, aproveitei pra perguntar o prazo de entrega. Falaram que "parecia que não tinha no estoque, eles iam procurar". Depois minha irmã ligou e falaram que realmente não tinha em estoque e que a compra feita dia 10/01 só poderia ser atendida em 08/02. 29 dias depois. Uma vergonha. Cancelamos a compra e nunca mais vamos comprar neste lugar.

Quer ser popular, seja. Baixe preço, tire todo o pessoal de atendimento e diga que não entrega, que quem quiser vá lá, pegue o que tiver e leve nas costas. Mas não se meta a fazer o que não sabe. Não existe um ditado: "Quem não tem competência, que não se estabeleça"?

Então é isso, Sr. Ricardo, pare de brincar de ser empresa séria. Mudem-se pro Shopping Oi, até lá vocês têm o que aprender sobre garantia e atendimento. Mas não tentem brigar com Ponto Frio, Americanas e Submarino, vocês vão pagar caro. Vocês são péssimos.

19.1.07

Somos um país livre! :-)

Vejam esta!

Colombiana perde cidadania espanhola por não ter 'nome correto'- Reuters

MADRI - Uma colombiana chamada Darling soube que não ganharia a cidadania espanhola por seu nome ser inaceitável. Depois de anos vivendo em Madri, Darling Verez, de 33 anos, teve seus papéis para se tornar cidadã espanhola rejeitados pelo governo, que alegou que, na Espanha, é proibido uma pessoa ter um nome que a exponha ao ridículo. O serviço de imigração sugeriu que Darling (Querida, em inglês) trocasse de nome. Mas, em uma entrevista ao jornal colombiano "Mundo", ela se recusa, afirmando que seu nome é a sua marca registrada.

Tá vendo? Depois dizem que o Brasil é um país preconceituoso. Temos tanto nomes brasileiros, como João e Maria, como nomes em inglês (Maicossuel - jogador do Cruzeiro, Máicon Diéquisson - sim, é assim mesmo, eu vi com meus olhos :-), como 80% da nossa população hoje tem nome sueco (Richarlysson - jogador do São Paulo, Valdiclêison, Gilglébson, e todas as combinações de letras com "son" no final). Já até me sugeriram - sério - uma vez que colocasse o nome do meu filho de "Thalyson" Fala sério :-)

Alguém tira os holofotes de cima desse Hugo Chávez?

Assim como as Cicarellis, Gimenez e Galisteu da vida, os idiotas só ficam famosos quando existem veículos dispostos a dar voz e imagem às suas idiotices.

Então, ao invés de ficarem todos os jornais reclamando do Hugo Chávez, de ser ditador, etc, etc, por que não páram de colocar nos jornais todas as suas frases estúpidas? É a mídia que prolonga os 15 minutos de fama desses imbecis. Chávez, Lady Diana, Xuxa, Ivete Sangalo, modelos-atrizes e Big Brothers, pra mim são tudo a mesma coisa: idiotas, inúteis, vendidos como pasta de dente a um público idiota e inútil. Tirem os holofotes e eles se recolhem à sua insignificância.

15.1.07

Derrubando mitos: Taxa de Juros x Lucro dos Bancos

Gosto muito quando leio algum desmentido sobre uma coisa em que todo mundo acredita sem entender muito do assunto, e passa pra frente como se fosse uma autoridade no tema.

As expressões "lucro recorde dos bancos" e "taxa de juros" são sempre associadas à expressão "Governo Lula" como se fosse claro como 1+1=2 que o Lula elevou a taxa de juros a valores absurdos para agradar aos bancos, que, por isso, têm lucros recordes.

Uma parte eu sabia desmentir: que a taxa recorde de juros (tanto nominal quanto real) aconteceu no governo anterior, e não no governo atual. E que as empresas que mais lucravam no governo anterior eram mesmo os bancos, e agora são as Vale do Rio Doce e afins.

Mas este artigo de hoje do ex-ministro Maílson da Nóbrega discute mais uma "certeza definitiva" dos papos de elevador: ele afirma que os bancos ganham mais com juros mais baixos. Numa analogia fácil de entender, fala que com juros mais baixos, os bancos emprestam muito mais dinheiro a muito mais gente, o que parece ser óbvio. Diz que achar que banco ganha com juro alto é o mesmo que achar que supermercado ganha com preço alto, quando na verdade se ganha é na diferença entre por quanto se compra e se vende multiplicado, obviamente, pela quantidade de vendas.

Muito interessante, vale a pena ler (clicando aqui). Gostei particularmente do primeiro parágrafo, que diz "Diz o senso comum que os bancos lucram muito por causa dos juros altos. Trata-se de um equívoco praticado tanto por ignorantes no assunto quanto por muitos que se consideram bem informados.".

Pra mim, pior que ignorante que se mete a dar palpite sobre o que não entende, é gente que se julga "fodona" e fala muita bobagem, algumas vezes por não dominar o assunto que acha que domina e outras, por pura dialética, por pura má-fé, aproveitando a fama que tem de "fodão" pra fazer com que suas bobagens virem verdades (é o caso típico de FHC).

14.1.07

Vamo, Massa!

Ô época de ano ruim pra quem gosta de esporte... sem futebol e sem F1. Hoje saiu a Ferrari nova, vamos ver se o Massa segura a pressão e encara o Raikkonen. Não tenho muitas esperanças, mas gosto bem dele.

12.1.07

Ganhando dinheiro (de forma ética e inteligente) com o Orkut

Finalmente começaram a aproveitar os zilhões de à-toa que perambulam pelo Orkut pra ganhar dinheiro. Essa imensa base de dados e de opiniões pode ser usada pra planejamento de estratégia e marketing, marketing viral, pesquisa de mercado, um monte de coisas interessantes.

Orkut no Brasil tem sua primeira comunidade vendida

RIO - A comunidade do Orkut "Eu Amo Floripa" foi alvo da primeira transação comercial de que se tem notícia na rede no Brasil, infoma Flávia Oliveira na coluna Negócios & Cia do jornal "O Globo". A RBS pagou R$ 2 mil a um jovem carioca para se tornar mediadora do grupo.

A comunidade, que tem quase 75 mil membros, foi escolhida por reunir o maior número de fãs da capital catarinense. A página será usada para promover o festival do verão "Floripa tem", organizado pelo grupo de comunicações gaúcho e pela agência Tudo Eventos & Conteúdo, de Nizan GUanaes.

Vão pentear macaco, Rubinho, Cicarelli, Aécio e Azeredo!

Aécio censura a imprensa, Azeredo propõe o controle da Internet, Cicarelli censura o YouTube, agora o Rrrrrrrubinho Barrichello censura o Orkut... por que será que gente séria não se preocupa com isso, só as pseudo-celebridades, políticos fracassados e pretendentes a ditador?

"A Justiça determinou que os administradores do Orkut retirem do ar comunidades que criticam o piloto Rubens Barrichello"

Vejam que post interessante da Sandra Carvalho, da INFO Exame:

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O Tribunal de Justiça de São Paulo vai acabar levando algum prêmio Nobel – talvez o da Paz - por sua grande sacada: como acabar com a divergência de opiniões na web.

Só gênios do Direito poderiam pensar nisso: se há um confronto de idéias e alguém fica contrariado com o que se diz, basta fechar o endereço onde o debate acontece, e fica tudo resolvido.

Menos salas de discussão, menos salas de confusão. Além disso, os brasileiros precisam acabar com essa mania de site de relacionamento. Tremenda perda de tempo!

Uma internet totalmente gentil, só com opiniões a favor, é muito melhor do uma web caótica e democrática, onde cada um pode dizer o que pensa, evidentemente. Como não pensamos nisso antes?

Vamos reconhecer: de que serviram, até hoje, as gozações com o Rubinho Barrichello? Só denegriram o talento nacional, é claro. Agora que o Tribunal esclareceu que no Orkut só podem florescer as comunidades a favor, tá tudo dominado, e em paz. Não está? Prêmio Nobel, pls.
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11.1.07

A cidade não pára...

Dando a tradicional limpa no computador, e já pensando no trânsito danado que vou ter que pegar daqui a pouco, achei esta foto tirada da nossa janela aqui na Task, aqui no Centro de BH, há 4 anos.


Pouco antes, escutei aquele típico papo de elevador, onde uma mulher comentou com um colega que está havendo muito assalto na rua do bar Albano's ali no Anchieta, concluindo: "Uma amiga minha foi assaltada. Dizem que tem três assaltos por dia lá, um horror. Mas não sai na imprensa não, o Aécio não deixa" (veja mais sobre o ímpeto absolutista do nosso ditador clicando aqui). Papo de elevador é papo de elevador, mas quando se trata de um assunto que está começando a se espalhar (ainda bem que ele ainda não nos proíbe de falar), vale a pena prestar atenção.

Juntando as duas coisas, me lembrei de Chico Science: "A cidade não pára, a cidade só cresce, o de cima sobe e o de baixo desce". Ou do ex-presidente-general João Figueiredo: "Eu sou a favor da democracia. Quem for contra eu prendo e arrebento"!. Dá-lhe Aécio Chávez!

Veríssimo também está contra os bárbaros

Luís Fernando Veríssimo (coitado, metade dos lugares escreve Luís, e metade Luiz, incluindo o Noblat) também mostra sua indignação com a barbaridade petro-imperialista de Bush no artigo abaixo. Será que nós, brasileiros, vamos continuar mais interessados no vídeo da Cicarelli, nos espantosos gêmeos que nasceram, um em 2006 e outro em 2007, ou no novo Big Brother do que nessa estupidez que um dia pode mirar na gente?

por Luís Fernando Verissimo

Bárbaros

A hipocrisia é uma característica comum dos impérios,mas alguns exageram. Quando a rainha Vitória se declarou chocada com os bárbaros chineses em revolta contra os ingleses, no fim do século dezenove, não mencionou que a revolta era uma reação dos chineses à obrigação de importar o ópio que os ingleses plantavam na Índia, tendo destruído sua agronomia no processo.

Os ingleses obrigaram os hindus a abandonarem culturas tradicionais para produzir ópio e foram à guerra para obrigar os chineses a consumi-lo, num momento particularmente bárbaro da sua história. Mas ninguém nunca se declarou muito chocado com o comportamento da rainha Vitória, fora as especulações sobre o seu caso com um cavalariço.

Havia sempre bárbaros convenientes nas fronteiras dos impérios: orientais fanáticos, monstros primitivos, dervixes messiânicos, tiranos sanguinários. Legitimavam a conquista colonial, transformando-a em missão civilizadora, enobreciam a raça conquistadora pelo contraste e — em episódios como o da Guerra do Ópio — disfarçavam a barbaridade maior dos civilizados com a truculência já esperada de raças inferiores.

A hipocrisia imperial continua e agora chegou a outro auge na reação à execução desastrada do Saddam Hussein. Um comandante americano no Iraque declarou que se eles fossem encarregados de matar o monstro teriam feito diferente. Claro que teriam. Quando Bush era governador do Texas, não pensou em suspender nenhuma das mais de 150 execuções realizadas no estado durante seu governo, certamente confiante que todas seriam civilizadas e tecnicamente impecáveis. Mas o que se poderia esperar de bárbaros se não um enforcamento indigno? Como se qualquer enforcamento, ou qualquer modo de execução, pudesse ser digno.

A CIA terceirizou a tortura, levando suspeitos para serem interrogados por bárbaros úteis em países com norrau no assunto. Longe da civilização americana, que não faz essas coisas. Presume-se que os agentes da CIA tapem os ouvidos durante as sessões de tortura, para não serem conspurcados pela indignidade alheia.

Tony Blair, a rainha Vitória do momento, também se declarou chocado com a execução pouco civilizada de Saddam. Não teve os mesmos escrúpulos ao apoiar o ataque ao Iraque justificado com mentiras que ele sabia serem mentiras, como prova o famoso memorando em que lhe contaram que os americanos estavam adaptando os fatos à decisão, já tomada, de invadir. E já devem ter morrido mais iraquianos e anglo-saxões no Iraque do que chineses e ingleses na Guerra do Ópio.

Complemento indispensável para o Firefox

Apesar de ter adotado e ficado fã do Firefox e o monte de penduricalhos úteis e inúteis que podemos instalar, ainda ficava puto por ter que ir pro Internet Explorer pra acessar alguns sites, principalmente de bancos e de governo, cujos formulários não funcionavam.

Com o IE Tab, você acessa o site pelo Firefox, mas o visualiza como se estivesse com o IE. Fica um ícone, onde você quiser colocar, com o símbolo do Firefox, clicando com os botões do mouse sobre ele (vejam as instruções pra configurar melhor), pode-se mudar um site momentaneamente ou até definitivamente pra ser visualizado como Internet Explorer. Todos os seus problemas se acabaram-se!

Baixe o IE Tab clicando aqui.

10.1.07

O petro-imperialismo de Bush

Acabei de ler esta no blog do Noblat. E tem gente que ainda acha esquisito a gente odiar os EUA, que é perseguição, complexo de inferioridade.

O petróleo e os talibãs americanos

Notícia na Folha de S. Paulo, republicando matéria do The Independent de Londres: o Iraque prepara uma lei que vai abrir as reservas de petróleo do país à exploração por companhias ocidentais.

O governo dos Estados Unidos está envolvido na redação da lei, assinalam os repórteres, sem maiores comentários. Nem precisava; o Iraque é um país ocupado militarmente.

Novidade seria o seu governo, que só existe por delegação dos ocupantes, fazer qualquer coisa sem que os Estados Unidos estivessem envolvidos - do enforcamento de Saddam Hussein à abertura dos poços de petróleo.

Segundo The Independent, a lei vai permitir que grandes empresas como a British Petroleum, Shell e Exxon assinem contratos de 30 anos para explorar petróleo no país. Seria a primeira vez desde 1972, quando o petróleo iraquiano foi nacionalizado, que companhias estrangeiras poderiam operar em grande escala no Iraque.

E mais: as multinacionais vão embolsar, no começo, até 75% dos lucros da exploração. Depois esse percentual cairia para 20%, ainda assim muito mais do que elas costumam ganhar em outros países da região, como a Arábia Saudita e o Irã, os maiores produtores do mundo.

A notícia traz duas lembranças: a primeira, lá do começo da invasão, é de como George W. Bush, Tony Blair, seus ministros e diplomatas (e os muitos escribas que os apoiavam) reagiam indignados, quase ofendidos, a qualquer insinuação de que o petróleo fosse um dos motivos ocultos da guerra do Iraque. Era ato falho, está claro.

A segunda lembrança é de um livro publicado nos EUA no ano passado: American Theocracy - The Perils and Politics of Radical Religion, Oil, and Borrowed Money in the 21st Century (Viking Press).

O título parece um saco de gatos, mas resume o livro: Teocracia Americana – Os Perigos e a Política do Radicalismo Religioso, do Petróleo e do Dinheiro Emprestado no Século 21. O autor, Kevin Phillips, é o que se pode chamar de um conservador em crise.

Phillips foi um estrategista político importante dos presidentes Richard Nixon e Ronald Reagan. Em 1969, com menos de 30 anos, previu a volta por cima do eleitorado religioso e conservador no final do século, depois do furacão liberal dos anos 60 e 70.

Pois esse guru da América profunda está hoje desencantado com o Partido Republicano e alarmado com o poder crescente da ultra-direita religiosa.

É gente ativa e organizada que não aceita a existência de uma esfera pública laica, abrangendo as instituições políticas, a justiça e a educação. Se pudesse, derrubaria a separação entre a religião e o Estado e instalaria um governo teocrático baseado em doutrinas bíblicas fundamentalistas.

Esses talibãs do cristianismo evangélico são os eleitores republicanos mais leais, aqueles com quem Bush sempre contou para manter o poder e lançar suas aventuras imperialistas (“petro-imperialismo”, é como Phillips batiza a política externa de Bush).

É uma barganha política, afinal - os amigos petroleiros de Bush ganham rios de dinheiro com o petróleo alheio, enquanto seus eleitores se preparam para o Apocalipse ocupando o Estado e impondo suas crenças. O resto do mundo que ouça os sermões e entre na linha.

9.1.07

Cicarelli, YouTube e a idolatria pelos Zé-Ninguém

Muito bonito! O mundo inteiro está ridicularizando a decisão da Justiça, cumprida ontem pela Brasil Telecom (o que bloqueou o acesso de seus clientes, uma parte pequena do Brasil, mas significativa), de bloquear o acesso do Brasil a todos os vídeos do YouTube.

É tão constrangedor e revoltante que fica difícil falar sobre isso. Primeiro vem Eduardo Azeredo propor o controle da Internet, depois essa censura. Veja a repercussão clicando aqui.

Isso tudo porque uma "modelo-atriz-apresentadora", cuja maior realização na vida foi ter casado com um jogador de futebol, se sentiu ofendida por ser filmada fazendo sexo em uma praia pública.

A culpa disso tudo é de quem fica endeusando essas pseudo-celebridades, é de quem discute se a Débora Seco ou a Galinhane Adristeu devem voltar pros namorados, se a Xuxa emagreceu, como ficou o silicone da sei-lá-quem. É da Globo, e agora MTV, que culturam a ignorância e nos fazem reféns desses VIPs, que os colocam pra serem entrevistados pelo Jô em pé de igualdade com pessoas que realmente contribuem pra alguma coisa, que os colocam em lugares privilegiados em detrimento dos verdadeiros fãs em shows, pra que possam desfilar, beber, quebrar tudo e aparecer pras câmeras.

Eu acho ridículo isso tudo. E eu não tenho a menor paciência pra qualquer pessoa que se digna a falar da vida dos outros. Principalmente da vida de "astros" de TV. Não sei de quem é a frase, mas li uma vez "Pessoas sábias falam sobre idéias, pessoas comuns falam sobre coisas, pessoas medíocres falam sobre pessoas".

8.1.07

O dia em que o Brasil foi invadido - sensacional!

Este vídeo foi feito por Abel Filho como projeto de conclusão do Curso de Publicidade e Propaganda, espetacular!

6.1.07

As Duas Democracias - por Cristovam Buarque

Conversava ontem com a Bia sobre a falta de prioridade de países subdesenvolvidos (o politicamente correto é "em desenvolvimento"...) na educação (nossa conclusão irônica e triste foi de que se o Brasil tivesse furacão, terremoto e neve, por exemplo, seria uma miséria total, pois sem nenhum desses problemas as coisas não andam, imaginem com eles) e achei hoje no blog do Noblat este artigo do senador Cristovam Buarque, vale a pena ler:

As Duas Democracias

Os últimos governos brasileiros têm defendido a democratização do acesso ao ensino superior, sem ampliar, no entanto, o número dos que terminam o ensino médio com qualidade. É uma democratização conservadora. Para o topo, não pela base.

Há democracias conservadoras e democracias progressistas. A grega foi conservadora, escravocratra, excludente, sem espírito transformador.

A norte-americana começou conservadora, escravocrata. O gesto progressista da abolição do regime escravocrata exigiu uma guerra civil, não foi viável pelo voto. Até porque os escravos não tinham direito a votar. Depois voltou a ser conservadora: acredita na evolução do sistema social graças ao aumento da riqueza. A partir dos anos 1930, a conservadora democracia dos Estados Unidos, apesar de manter-se conservadora, assumiu um caráter um pouco mais generoso, com o uso dos sistemas de proteção ao desemprego e o “food-stamp”, uma espécie de Bolsa-Família em “ticket” para comprar comida.

A democracia européia, com os social-democratas, assumiu um caráter progressista: fez mudanças estruturais que universalizaram a qualidade da educação e o acesso à saúde pública em bases eqüitativas para toda a população e ampliou os benefícios aos trabalhadores. Juntou-se a isso um sistema generoso de proteção social.

Quando a generosidade passou a ameaçar as finanças públicas, no lugar de fazer reformas progressistas que mantivessem os benefícios para as massas, retirando privilégios das minorias, optou-se pelas reformas conservadoras dos anos 1980/1990.

A democracia norte-americana continuou conservadora e perdeu a generosidade; a européia esgotou seu processo transformador ficando conservadora e está perdendo o sentimento de generosidade.

Nesse meio tempo, o Brasil passou por um período sem democracia e quando ela volta, em 1985, é com o mesmo caráter conservador e egoísta que caracteriza nossa sociedade desde sua fundação. Democracia com exclusão. O governo Lula se propôs a ser a primeira democracia progressista do Brasil, mas frustrou as expectativas. É um governo democrático e conservador: não se propõe a mudar a realidade social, quebrar a apartação. Diferentemente da democracia sul-africana que é progressista, porque se constituiu para abolir o sistema de apartheid racial e mudou sua estrutura legal.

A Bolsa-Escola era um programa de democracia progressista: ao investir na educação, faria uma revolução social. A Bolsa-Família é democrática e conservadora, porque não muda a estrutura social. Embora um bom programa do ponto de vista da generosidade, não carrega vigor transformador. O governo Lula tem a qualidade positiva de ser uma democracia generosa, mas, ainda assim, conservadora. E sem futuro: a generosidade esgotará seus recursos, como aconteceu na Europa e nos Estados Unidos.

O aumento no número de cursos e vagas no ensino superior durante o governo Fernando Henrique Cardoso foi um passo de democratização conservadora. O ProUni deu um passo adiante: a generosidade. Mas continua uma democratização conservadora, tendo em vista que beneficia aos mesmos que já terminam o ensino médio. Seria progressista se fosse parte de uma revolução que garantisse a conclusão do ensino médio com qualidade para todos os jovens. Ou se, como foi concebido inicialmente em 2003, mas abandonado em 2004 - sob o nome de Programa de Apoio ao Estudante (PAE) -, o aluno beneficiado tivesse de exercer o papel de alfabetizador de adultos, durante parte do período em que recebia a bolsa.

Os programas Bolsa-Família e ProUni nasceram de idéias progressista, como a Bolsa-Escola e o PAE, mas ficaram conservadores ao se desligarem da educação de base e da alfabetização. Embora generosos, perderam o caráter transformador. Por isto, Lula não é Mandela. Mas ainda pode vir a ser: bastará entender que a revolução de hoje, emancipadora, progressista, democrática, se fará por uma revolução pela educação de base, erradicando o analfabetismo e universalizando o número de concluintes do ensino médio com qualidade.

5.1.07

Campanha contra a dengue - muito boa!

Continuo não aceitando a arrogância e ignorância do Império

A execução de Saddam, enforcado e humilhado, ainda não saiu da minha cabeça. Como o mundo pode aceitar que os EUA detonem os direitos humanos e o senso de civilização desse jeito? Já esquecemos do assunto, vamos aguardar o próximo?

Por que nos movimentamos pra reclamar do aumento do salário dos deputados e falamos sobre o enforcamento do cara como se não nos atingisse? Atinge sim, cada vez que o Império pisa no mundo e age segundo o que manda o próprio nariz todos nós estamos morrendo um pouco.

Tereza Cruvinel, de O Globo, colocou hoje em seu blog comentários viscerais sobre essa barbaridade, que reproduzo abaixo - o post completo pode ser lido aqui

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(...) E não venham os EUA dizer que nâo têm nada com isso, que foi tudo obra do governo iraquiano. Sabemos todos que aquele governo é seu fantoche, lá posto para acirrar o conflito entre xiitas e sunitas, levar o Iraque à guerra civil e facilitar a pilhagem de seus recursos petrolíferos. Não podem os EUA dizer que não têm nada com isso porque eles têm Guantánamo, a prisão também medieval que mantêm na base cubana, onde há centenas de prisioneiros que não têm processo ou culpa formada, não foram julgados, enfrentam torturas. Vivem em tão precárias condições que alguns deles, não fz muito tempo, mesmo sendo muçulmanos, desafiaram o Alcorão, que condena o suicídio como blasfêmia, e se mataram. Entre os prisioneiros, há 17 jovens com menos de 18 anos! Guantánamo e o enforcamento de Saddan são duas faces do arbítrio americano. Em ambos, o governo americano mostra que confunde Justiça com Vingança. E quando isso acontece, estamos nos afastando do Estado de Direito, da Civilização, e regredindo em direção à barbárie e às trevas.

Mas quem há de enquadrar os EUA, de sujeitar o Império a algum paradigma do direito internacional e de respeito aos direitos humanos? O Império não dá satisfações a ninguém, nem mesmo à ONU. Mas os países livres devem externar sua repugnância. Quase todos, à exceção da Inglaterra o fizeram, e devem continuar fazendo. O Império é poderoso mas não é surdo. Dentro de seu território, o obscurantismo, a obnubilização das consciências que permitiu a era Bush, começa a dar sinais de que desperta da letargia política, podendo eleger um novo governo e implementar uma nova política externa. Hegemonista, ela sempre será, mesmo com os democratas. Mas pelo menos, que não seja obscurantista.
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3.1.07

Ignorância ou Ignorância?

ignorância
do Lat. ignorantia

s. f.,
estado de quem ignora;
falta de saber, de ciência;
desconhecimento;
imperícia.

Temos o hábito de chamar uma pessoa arrogante ou grosseira de ignorante. Um cara xinga o outro, e falamos "que sujeito ignorante!". Esta definição, que não achei no dicionário, vou procurar melhor, e se aplicaria perfeitamente aos norte-americanos em quase tudo o que fazem, e mais especificamente no caso da execução de Saddam Hussein no último fim de semana, com direito a humilhação e divulgação de vídeos e fotos.

Ninguém está discutindo se o sujeito era um monstro, mas morreu dignamente, se defendendo de ofensas dirigidas pelos "convidados" dos norte-americanos e o vídeo do seu enforcamento com direito a close no pescoço quebrado rodou o mundo. Deprimente. Veja matéria no Globo sobre a "entrada não-autorizada do celular que filmou" aqui, os insultos feitos a ele pelas testemunhas aqui e imagens de protestos pelo mundo aqui.

A imagem que muitos gostariam de ver (muito mais que a de Saddam) seria esta:



Enquanto isso, no país de Xuxa, Ana Maria Braga, Faustão, Jota Quest e Ivete Sangalo, o assunto da terça-feira pós-feriado eram os gêmeos que nasceram um num ano, outro no outro. Que coisa linda! No elevador, nos corredores, nas calçadas, não se falava em outra coisa. Nem parece que o mundo inteiro está discutindo a barbaridade que foi cometida contra Saddam Hussein.

Esta é a definição do dicionário da palavra 'ignorância'.

Patrocinada pela TV Globo.

Marketing desastrado

Sou cliente do Banco do Brasil e acesso o internet banking praticamente todo dia. Banco bom pra mim é aquele em que você não precisa ir à agência.

Os bancos são quem mais investe em tecnologia em comércio eletrônico no Brasil. Mantêm hordas de hackers no submundo pra caçar os 'hackers do mal' que invadem contas e lhes causam prejuízo. Gastam boa verba de publicidade e espaço nos sites tentando educar os clientes a não terem medo, a se sentirem seguros no ambiente virtual, desde que se tomem alguns cuidados básicos. Alertam pra que se tome cuidado com qualquer coisa diferente no site...

Aí algum infeliz, numa época em que vírus, cavalos-de-tróia, spams, worms e toda sorte de praga virtual já faz parte do nosso vocabulário cotidiano, tem a idéia de personalizar o site www.bb.com.br com o nome das pessoas, pra passar a idéia de um banco mais próximo do cliente (aliás, outra coisa é a falta de criatividade do marketing dos bancos: quando um começa a enfatizar a tecnologia, todo mundo só fala disso. Quando um começa a falar que se importa com as pessoas, que é "gente banking", todo mundo corre atrás).


O tiro saiu pela culatra. Pela manhã, tomei um susto, ao acessar o site e ver a logomarca do Banco do Brasil trocada para "Banco do Tales". E o site completamente lento. Coração disparou, conferi o endereço na barra do navegador, procurei o cadeado que indica site seguro, passei o mouse nos links, tudo apontava pra bb.com.br mesmo... olhei os códigos-fonte dos scripts e vi que, quando a pessoa ainda não estava logada como cliente, eles sorteavam um nome dos mais comuns, como "Pedro" ou "Bruno". Vi o banner que colocaram no site (e nos outros sites, como O Globo, etc) divulgando a campanha. Com a pessoa logada, usava o seu próprio nome na personalização. Chamei o Baltar pra ver a bobagem e rir um pouco. :-)

Á tarde entendi o motivo da lentidão. O Felipe, que trabalha conosco, mandou mensagem pra lista interna dizendo que o site do BB tinha sido hackeado, estava aparecendo "Banco do Bruno", etc, etc. Ainda sem ter certeza total, argumentei que isso era a nova campanha de marketing deles. A lentidão era porque o Brasil todo já acessava o site pra vê-lo "defaced".

Hoje já saiu nos jornais a repercussão da bobagem (veja duas matérias aqui e aqui). Bom, passou o susto, agora pode deixar a campanha, né? Mas que foi uma merda, foi.

2.1.07

Bom dia, boa semana, bom ano!

Tem coisa melhor que receber isso por e-mail num dia feio, chuvoso, cheio de trabalho burocrático, voltando de feriado? Ê Bia danada de linda!!!

EVERY TIME WE SAY GOODBYE
Cole Porter

Every time we say goodbye
I die a little
Every time we say goodbye
I wonder why a little
Why the Gods above me
who must be in the know
Think so little of me
They allow you to go

When you're near
there's such an air
of Spring about it
I can hear a lark somewhere
begin to sing about it

There’s no love song finer
But how strange the change
From major to minor
Every time we say goodbye

1.1.07

A Besta de Bagdá e os outros culpados (Por Robert Fisk)

Li isso no Blog do Noblat. Eu odeio os Estados Unidos. Mais que nunca. Parafraseando Jorge Bonhausen, gostaria de me ver livre desta raça.

"Saddam Hussein ao cadafalso. Foi uma equação fácil. Quem poderia merecer mais fazer aquela última caminhada ao cadafalso -aquele estalo do pescoço no final de uma corda- do que a Besta de Bagdá, o Hitler do Tigre, o homem que assassinou centenas de milhares de inocentes iraquianos ao jogar armas químicas sobre seus inimigos?

Nossos mestres nos dirão que é um "grande dia" para os iraquianos e esperarão que o mundo muçulmano perdoe o fato de sua sentença de morte ter sido assinada -pelo "governo" iraquiano, mas em nome dos americanos- na véspera do Eid al Adha, o Festa do Sacrifício, o maior momento de perdão no mundo árabe.

Mas a história registrará que os árabes e os outros muçulmanos e, de fato, muitos milhões no Ocidente, farão outra pergunta neste fim de semana, uma questão que não será colocada em outros jornais ocidentais porque não é a narrativa dada a nós por nossos presidentes e por nossos premiês: e os outros culpados?

Não, o premiê britânico, Tony Blair, não é Saddam. Não usamos gás contra nossos inimigos. O presidente George W. Bush não é Saddam. Ele não invadiu o Irã ou o Kuait. Ele apenas invadiu o Iraque. Mas centenas de milhares de civis iraquianos estão mortos -e milhares de soldados ocidentais estão mortos- porque os senhores Bush e Blair e o premiê espanhol e o premiê italiano e o premiê australiano foram à guerra em 2003 num caldeirão de mentiras e falsidade e, dadas as armas que usamos, com grande brutalidade.

Na seqüência dos crimes internacionais contra a humanidade de 2001, nós torturamos, assassinamos, brutalizamos e matamos inocentes -até mesmo acrescentamos nossa vergonha no presídio iraquiano de Abu Ghraib à vergonha do regime de Saddam em Abu Ghraib -e temos de esquecer esses crimes terríveis enquanto aplaudimos o corpo balançante do ditador criado por nós.

Quem incentivou Saddam a invadir o Irã em 1980 -o maior crime de guerra que ele cometeu por levar à morte um milhão e meio de almas? Quem vendeu a ele os componentes para as armas químicas com as quais ele encharcou o Irã e os curdos? Fomos nós.

Não é surpresa que os americanos, que controlam o estranho julgamento de Saddam, tenham proibido qualquer menção disso, sua atrocidade mais obscena, nas acusações contra ele. Ele não poderia ter sido entregue aos iranianos para ser julgado por esse crime de guerra em massa? Está claro que não -porque isso exporia a nossa culpabilidade.

E os assassinatos em massa que perpetramos em 2003 com nossas reduzidas bombas de urânio e nossas bombas "arrasa-bunker" e nosso fósforo, a infernal anarquia que lançamos sobre a população iraquiana após nossa "vitória" -nossa "missão cumprida"-, quem será declarado culpado disso?

Tal expiação virá, sem dúvida, nas auto-indulgentes memórias de Blair e Bush, a serem escritas em aposentadorias ricas e confortáveis.

Horas depois da sentença de morte de Saddam, sua família havia perdido a esperança.Mas Saddam sabia e já tinha anunciado seu próprio "martírio": ele ainda era o presidente do Iraque e morreria pelo Iraque.

Eu cataloguei seus crimes monstruosos durante anos. Eu falei com os curdos sobreviventes de Halabja e com os xiitas que se levantaram contra o ditador a nosso pedido em 1991 e foram traídos por nós. Como Donald Rumsfeld, eu até apertei a mão macia do ditador. O velho criminoso de guerra terminou seus dias no poder escrevendo romances.

Foi meu colega Tom Friedman -hoje um colunista messiânico do "New York Times" - que retratou perfeitamente o caráter de Saddam pouco antes da invasão de 2003: Saddam era, ele escreveu, "parte Don Corleone, parte Pato Donald". Friedman capturou o horror de todos os ditadores, a natureza grotesca de sua barbaridade.

Mas não é assim que o mundo árabe vai vê-lo. No início, os que sofreram com a crueldade de Saddam vão saudar sua execução. Mas eles -e milhões de outros muçulmanos- se lembrarão de como ele foi informado de sua morte na véspera da Festa do Sacrifício, que lembra a decisão de Abraão de sacrificar seu filho, festa que mesmo Saddam cinicamente celebrava soltando prisioneiros.

"Entregue às autoridades iraquianas" ele pode ter sido antes da morte. Mas sua execução ficará -corretamente- como um assunto americano e o tempo acrescentará seu falso mas duradouro retoque a tudo isso -que o Ocidente destruiu um líder árabe que não obedecia mais às ordens de Washington e que, apesar de todos os seus erros (e este será o terrível eufemismo para os historiadores árabes), Saddam morreu como "mártir" sob novos "cruzados".

Quando ele foi capturado, a insurgência contra as tropas americanas aumentou. Depois de sua morte, dobrará em intensidade de novo. Libertados da mais remota possibilidade da volta de Saddam por sua execução, os inimigos do Ocidente no Iraque não têm motivo para temer a volta do regime baathista. Osama bin Laden certamente se regozijará, assim como Bush e Blair. E há um pensamento -tantos crimes foram vingados. Mas, com isso, nós teremos escapado."

Robert Fisk é jornalista do Independent. Artigo publicado na Folha de S.Paulo, hoje, 01/01/07.