24.8.10

Desonestidade intelectual deveria ser crime

Estava me considerando inapto para voltar a escrever no blog, até tentei, há algumas semanas, mas me recolhi à minha mediocridade, preferindo dar meus curtos pitacos via Twitter (@taleslacerda), acho que me viciei em escrever só em 140 caracteres.

Mas, como diz o Rubinho, 'hoje não, hoje não' :-)

Meu grande amigo, concunhado e meu advogado Rafas Maia (@rafasmaia) me emprestou um livro, se derramando em elogios: 'Código da Vida', de Saulo Ramos. Ficou aqui encostado umas semanas porque estava acabando de ler um outro, e tinha acabado de comprar mais um (a impagável biografia do Ozzy Osbourne em 'Eu sou Ozzy').

Peguei-o pra ler agora à noite. Confesso que o nome Saulo Ramos já me causava um certo desconforto, por ter sido Ministro da Justiça do Governo Sarney. Acho que o ministro da Justiça diz bem qual é a cara do governo. A do Saulo Ramos eu não conhecia, mas o governo Sarney todos conhecemos... da mesma forma que Renan Calheiros foi Ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, e aí a lógica se inverte... se o cara coloca o Renan Calheiros pra cuidar da Justiça do país...

Bom, mas não é pra falar de política. Mesmo com esse pé atrás, comecei, como sempre, lendo as orelhas, prefácio, etc, acho que um livro merece ser lido por completo, leio até a ficha para catalogar em biblioteca.

No prefácio, chamado 'Explicação necessária', o autor faz uma breve síntese da sua trajetória e, meio que 'por acaso' já estava trabalhando com Jânio Quadros, lançando Mário Covas à prefeitura de Santos, virando Ministro do Sarney. Acho que ninguém chega a um cargo alto político 'por acaso', mas vamos lá...

No fim da 'explicação necessária', a bomba que me fez desistir de ler o livro.

Foi mal, Rafas, mas não desce. Desonestidade intelectual é impossível de engolir. Engulo opinião sincera divergente das minhas, como é o seu caso, engulo encheções de saco sem fundamento no que deveria ser um debate racional, como tantos que presenciamos, mas tudo tem limite. Veja só o parágrafo:

"Claro que examino, com repulsa, a putrefação do governo Lula e a patriótica corrupção do Partido dos Trabalhadores, que fundou, afundando-se, a escola da imoralidade para fazer o bem público e que acabou na vida privada de seus agentes batendo uma lamentável espécie de recorde na história brasileira das grandes vergonhas. Ou da falta delas, inclusive a de deixar os pobres cada vez mais pobres para industrializar esmolas em trocas de votos"

Nem vou discutir a afirmação de 'recorde de vergonhas e corrupção' com quem foi ministro do governo mais corrupto que já tive notícia, o de Sarney,Saulo Ramos, ACM e tantos outros. Como isso não tem um medidor, é subjetivo, é opinião e ideologia.

Mas, Sr. Saulo (não chamo advogado de doutor, só chamo de doutor quem tem doutorado, não sei se o Sr. tem): ao dizer que 'os pobres estão cada vez mais pobres', o Sr. mostra ou que é ignorante por completo ou que é desonesto. Tendo a duvidar da primeira opção, dados sua formação e trânsito pelo poder há décadas.

O Sr. não precisava falar isso, porque sabe que é mentira. Ao falar, se iguala ao que há de mais podre na imprensa escrita do Brasil - Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi, da Veja. Depois dessa manifestação de rancor e desonestidade, não me interessei pelo restante do livro, por mais que o Sr. alegue que a história é sobre 'pais separados que brigam pelos filhos', com alguns recortes sobre o que acontecia no país à época.

Eu gostaria que existisse o inferno, para encontrá-lo lá - eu, por ser ateu, o Sr. por ser mau-caráter e desonesto. Mas infelizmente (ou felizmente?) nunca o encontrarei.

Seu livro está separado aqui, Rafas. Valeu.