5.2.12

Ouvindo a voz das ruas

Escrevendo um post meio tosco aqui, quase que uma tuitada com mais de 140 caracteres, mas não podia passar em branco:

Minha Preta e eu  hoje, voltando do Mercado Central de Montevidéu (não sei se chama Mercado Central), pegamos um táxi. Os táxis daqui têm um vidrão tipo blindado, com uma gavetinha pra passar o dinheiro, deve ser por questão de segurança, achei estranho, nunca tinha visto assim. Eu gosto muito de puxar assunto com os motoristas de táxi onde quer que eu vá, é uma maneira de medir a opinião pública sem passar pela grande mídia. Me intimidou um pouco desde quando chegamos, mas hoje resolvi arriscar, naquele portunhol que faria Collor e Luxemburgo parecerem doutores em Línguas:

- E Mujica, que pensam sobre ele?

(o cara olhou pra trás, pra ver quem estava falando, e avisou, já percebendo que éramos brasileiros:)
- Mujica e Lula são assim (aquele gesto de dedos indicadores próximos), sabia?

- Sabia, eu adoro Lula, quero saber o que la gente de Uruguay pensa sobre Mujica

O cara falou como se fosse um daqueles libertadores sul-americanos. Sensacional. Como os argentinos também falam sobre seu povo. E os chilenos também. Os brasileiros não, que pena.

Falou de como Mujica está cansado de lutar contra a elite, mas que, seguindo Lula, como ele luta para um Uruguai livre e irmão dos irmãos da América do Sul.

Falou que antes de Lula, os países da América do Sul viviam isolados, só se comunicavam via Estados Unidos e Europa, agora somos irmãos, não temos fronteiras ('algo impensable antes de Lula'), que é uma alegria receber a todos, todos com seus sorrisos e seus apertos de mão, uma América que não se pensava mais existir.

Perguntei sobre reeleição, sobre popularidade. Ele disse que Mujica é muito popular, mas que está muito cansado, é uma luta desigual contra a elite (já viram este filme?), que não quer se candidatar, mas não achou ainda outro nome, como nosso Lula achou a Dilma.

Mas que espera que este caminho que a América do Sul está seguindo, ('con Mujica, con Lula y Dilma, con Rafael') de dar ao seu povo, sempre massacrado pela elite, a oportunidade de decidir seu destino, não se interrompa.

Um povo que agora tem voz, que tem emprego, todo mundo com emprego, orgulhoso, com seu trabalho, comprando suas coisas, fazendo seus projetos de vida.

Concordamos plenamente. Eu, emocionado. Minha esposa tucaninha, com olhos arregalados, concordando não sei se por educação, se por realmente sentir o que é o povo (não é o da Folha, Veja & Globo).

Ele perguntou como o Brasil via o Lula. Antes que eu completasse, ele me disse 'só o povo de São Paulo não gosta dele, não é?'. Eu concordei dizendo que não era São Paulo especificamente, mas a elite econômica, que não queria abrir mão de privilégios. Ele, já velhinho, fez uma cara de 'conheço isso', bem 'va bene', falou 'eu sou filho de italiano, sei como é esse preconceito, e não triunfará'. Darwin te ouça!

Saí extasiado, realizado, foi meu presente hoje, quando completo meu 1o ano de casado. Não sei se o povo do Uruguai é diferente, mais informado (pô, o cara sabe que São Paulo lidera o ódio anti-Lula) e nacionalista, ou se realmente há uma mudança de mentalidade da América do Sul inteira. Espero que seja a segunda hipótese.

E confiante que, com essa voz das ruas, a elite (aqui no Brasil representada pelo PSDB) não voltará a nos massacrar. Não mesmo.