27.12.07

Tira, bota, deixa o povo se estrepar. Guerreiros com guerreiros quero ver o que vai dar.

Acabaram de matar a ex-primeira-ministra e líder da oposição no Paquistão, Benazir Bhutto. Como sempre acontece, daqui a pouco os EUA vêm lamentar a falta de democracia, a violência, blablablabla.

Bia e eu temos visto alguns filmes (Diamante de Sangue, O Último Rei da Escócia, etc) que incomodam por causa do aspecto político, normalmente ligados a colonizadores como EUA e Inglaterra.

E não é necessário ver os filmes, é só prestar atenção no noticiário. Esse de hoje é mais um exemplo. Assim como no Iraque, os EUA/Inglaterra colocam um ditador sanguinário no poder com a intenção de frear comunistas/muçulmanos ou quaisquer outros povos que não se encaixem no perfil servil que desejam.

Abastecem o sujeito de dinheiro, e quase sempre o poder/dinheiro sobe à cabeça e o cara começa a matar todos e querer dominar o mundo, igual ao Cérebro do Pinky & Cérebro. Começam a falar grosso, aumentar preço de petróleo, ameaçar fazer bomba atômica.

E os EUA? Fingem que não têm nada com isso, e mandam outra pessoa lá pra derrubar o mal-agradecido. Foi o que aconteceu no Paquistão. Os EUA colocaram o maluco do Pervez Musharraf, mas esse começou a dar abrigo para a Al-Qaeda, etc, e o que fizeram?

Mandaram pra lá a ex-primeira-ministra, capacho dos yankees, atolada até o pescoço em denúncias de corrupção.

Ela chega, começa a fazer comício em carro aberto, pede a renúncia do presidente, etc. Sofre um atentado, escapa. Continua falando, fazendo comício, e hoje não escapou.

E os EUA? Ah, já devem estar no ar-condicionado preparando mais gente pra mandar pra lá para morrer. Gente não-americana, de preferência, para morrer "em nome da liberdade$$$"!

4.12.07

Chávez, os liberais e a democracia sem povo

Achei um espetáculo o "NÃO" do povo venezuelano à proposta de mudança constitucional que, dentre outras coisas, permitiria ao bobalhão Hugo Chávez se candidatar novamente nas próximas eleições presidenciais.

Mas não foi só pra fazer biquinho e engrossar o coro do esporte nacional que se tornou falar que "Chávez vai virar um ditador", "Esse homem vai acabar com o mundo".

Foi porque ele subestimou a capacidade popular, acreditou que o referendo era apenas a assinatura que faltava no cheque em branco pra fazer o que quisesse. Mas o povo não assinou.

Isso é o que me chama a atenção. E por isso vejo de maneira diferente essa tentativa do Chávez. Apesar de todos quererem dizer que ele é parecido com o Lula (porque ele se intitula "socialista", sejá lá o que quer dizer essa palavra hoje em dia), eu acho que ele é parecido com os liberais, principalmente com os tucanos.

"Você está maluco, seu petista? Por quê?" :-)

Porque ele, assim como FHC e os refinados doutores tucanos, acreditam que é possível governar sem o povo. Ele, como FHC e os intelectuais do PSDB, acreditam que sabem o que é melhor para o povo, que não se pode deixar a população escolher tudo, porque eles não sabem escolher. Palavras do próprio FHC (estou procurando o link pra colocar aqui) que, há poucos dias, afirmou que o fato de Chávez fazer plebiscitos, referendos, consultas populares não era sinal de democracia porque "há coisas que não se pode submeter à apreciação popular. Pena de morte, por exemplo, se fizer plebiscito no Brasil, ganha, e não pode ganhar".

Santa arrogância, Batman! Senhor FHC, o senhor é um fanfarrão! Foi eleito pelo povo e vive a zombar de nossa inteligência. Acho que é o José Simão que fala, que os tucanos "se reúnem em Nova York pra discutir o Brasil". Se o senhor é colocado pelo povo, e o povo deseja alguma coisa, o senhor deve fazer. Isso é democracia, o poder que vem do povo e por ele deve ser exercido. O senhor seria (como foi) um funcionário público encarregado de executar as ordens do povo. Entendeu ou quer que desenhe?

Chegar lá em cima e dizer que estudou e que por isso sabe o que é melhor para o povo e que seria temerário fazer consultas populares é que é ser ditador, na minha opinião.

O povo já deu demonstrações de que não é tão burro quanto boa parte da imprensa e dos políticos acredita. Desconfiou da mega-campanha da Globo pelo desarmamento disse "não". Nâo engoliu a campanha da mídia à época da eleição e preferiu olhar para sua própria casa e verificar que suas condições de vida tinham melhorado, apesar de a imprensa dizer que o governo Lula é péssimo. E deu a ele mais um mandato.

E agora, graças à atuação dos estudantes (porque se dependesse dos políticos da oposição, que se recusam a ir para as ruas, que nem participam das eleições, o SIM ganharia folgado), o povo venezuelano disse NÃO. Como publicou o Estadão, "A reação ao autoritarismo de Chávez deveu-se a movimentos espontâneos e informais, fora dos quadros partidários."

"Foi decisivo o papel desempenhado pelo movimento estudantil. O apoio ao NÃO só começou de fato a crescer depois que os estudantes se mobilizaram via internet e celulares e ocuparam as ruas de Caracas" (leia mais aqui)

Não serão os discursos de FHC, de ACM Neto ou de Demóstenes Torres, oportunistas, que irão derrubar Chávez, Lula ou qualquer outro. É o povo que coloca e que tira. Mais uma vez isso acontece, mais uma vez os intelectuais ficam de boca aberta.

Esse modelo liberal, de gerenciar o país como uma empresa, do capitalismo selvagem onde manda quem pode, obedece quem tem juízo, não funciona. Pobre tem que ser ajudado sim. E é por isso que, em NENHUM dos países "vedetes" do mundo capitalista - os BRICs, entre as quais o Brasil está incluído, elege mais esse tipo de governo "choque de gestão", porque não funciona. Na Rússia, onde houve eleições semana passada, os partidos liberais ficaram abaixo da cláusula de barreira de 7%.

Para os liberais, mudar as regras do jogo - incluindo caminhões de dinheiro para comprar os votos - para favorecer o governo, como fez FHC com sua reeleição em 1998, pode. Já se for outro partido, fazer coisa parecida, como o hipotético "golpe do terceiro mandato para Lula", não pode.

Ambos seriam mudar a regra do jogo. A diferença é uma só: no caso de FHC, o povo não foi convidado a opinar sobre a reeleição. Nesse hipotético (ressalto o hipotético porque todos os analistas políticos que leio afirmam que é uma nuvem de fumaça alimentada pela própria oposição só para tumultuar, porque ninguém do governo dá respaldo a essa idéia de terceiro mandato), haveria um referendo, ou coisa parecida, e o povo decidiria se gostaria ou não de permitir a um governante se candidatar novamente.

Antes que me acusem de "conspirar pelo terceiro mandato", eu sou contra. Acho que a alternância de poder é saudável e fundamental para a democracia. Só não aceito que a coisa seja colocada da forma como está, e por quem não tem nenhum respaldo moral nem ético para fazê-lo. Os argumentos devem ser outros.

Como bem diz o Alon, "Resta a choradeira dos derrotados. Essa turma é assim mesmo. Acusam os outros de não serem democratas, mas nunca aceitam perder eleições".

O povo não quer vocês de volta, meus amigos. O povo quer comida na barriga, emprego, melhoria de vida. O povo quer ser ouvido, quer participar das decisões. Não quer ser tratado, como pregam os liberais, como meros consumidores dos produtos e serviços das empresas que vêm investir aqui. Entendam isso.

Entendam que o governo atual, apesar de inúmeros erros, de inúmeros casos de incompetência, de falta de capacidade, de planejamento, CUIDA DO POVO, melhora a vida dos pobres, coisa que vocês nunca fizeram, porque não está nos seus manuais de economia, porque é "gasto", e não "investimento".

Com a palavra, nosso ex-prefeito e ministro, o sensacional Patrus Ananias, falando sobre o fato de termos atingido o status de nação desenvolvida, segundo o IDH semana passada:

"Estamos saldando nossa dívida social. Para continuarmos nesse caminho, temos de trabalhar pela evolução de nossas políticas de modo a manter e ampliar o processo de distribuição de riquezas produzido pelo nosso país. Os países que hoje ostentam os melhores índices de desenvolvimento humano estruturaram suas políticas sociais há mais de cem anos e as mantiveram, observando uma linha evolutiva de direitos, de maneira a acompanhar as demandas da sociedade, na perspectiva do Estado do Bem Estar Social. E esse é nosso objetivo: construir uma nação que, num futuro próximo, garanta direitos e oportunidades iguais para todo. As condições matérias estão dadas para isso."

Não, não vão entender. Porque vocês acham que são superiores, que não são povo, esse é o grande erro. Mas, infelizmente para vocês, ainda não inventaram a democracia sem povo.