2.10.07

Indignação com os indignados

Recebi esse desabafo agora, do meu amigo-concunhado (é esse mesmo o nome desse grau de parentesco? :-) Raphael Maia, que reproduzo na íntegra abaixo. Não sei se concordo totalmente ou em parte com ele, mas que a gente fica mesmo bravo com os "cansados" que usam e abusam da fama, faturando milhões com seus programetes inúteis na TV, onde dão seus dias de princesa, reformam casinhas, choram, fazem (muito) merchandising (exceção para o "Soletrando", iniciativa interessante) e que só resolvem desabafar contra os problemas do Brasil quando são pessoalmente afetados.

Aproveito para agradecer pela atenção e pelos excelentes comentários do Marcos Ferreira, seja bem-vindo e participe conosco, Marcos!

À galera que prestigia com freqüência, também os agradecimentos (Drews, Hagi e minha linda Bia), se não fossem seus comentários, eu já tinha desanimado, dá um trabalho arrumar tempo pra escrever e ninguém ler :-)

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O que esse Luciano Huck acha da vida? Roubaram o relógio do cara e ele descobriu que existe violência no Brasil? Será que ele não acompanha os telejornais da emissora que ele trabalha?

Fico indignado quando leio umas coisas dessas! Aí eu me reporto ao filme “Tropa de Elite”,. Tem que encher esses caras de porrada! Só conseguem enxergar o próprio umbigo. De vez em quando fazem uma caridade só para aparecer no jornal...

Dizem que é o maior cheirador, junto com outro que não posso dizer o nome... Quem financia o tráfico é igual a traficante, já dizia o Capitão Nascimento...

Se vc quiser me ceder um espaço no seu blog, ta aí meu desabafo.

Abraço,

Raphael

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LUCIANO HUCK foi assassinado. Manchete do "Jornal Nacional" de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura.

Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.

Por quê? Por causa de um relógio.

Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado.

Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia.

Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa.

Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Defendo esta cidade. Mas a situação está ficando indefensável.

Passei um dia na cidade nesta semana -moro no Rio por motivos profissionais- e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Todos nos Jardins, com assaltantes armados, de motos e revólveres.

Onde está a polícia? Onde está a "Elite da Tropa"? Quem sabe até a "Tropa de Elite"! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam da rua Renato Paes de Barros para o infinito.

Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso.

Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro.

Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo e concluir -com um 38 na testa- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase "infantis" para uma sociedade moderna e justa.

De um lado, a pujança do Brasil. Mas, do outro, crianças sendo assassinadas a golpes de estilete na periferia, assaltos a mão armada sendo executados em série nos bairros ricos, corruptos notórios e comprovados mantendo-se no governo. Nem Bogotá é mais aqui.

Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber.

Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de "extraterrestres" fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo?

Estou à procura de um salvador da pátria. Pensei que poderia ser o Mano Brown, mas, no "Roda Vida" da última segunda-feira, descobri que ele não é nem quer ser o tal. Pensei no comandante Nascimento, mas descobri que, na verdade, "Tropa de Elite" é uma obra de ficção e que aquele na tela é o Wagner Moura, o Olavo da novela. Pensei no presidente, mas não sei no que ele está pensando.

Enfim, pensei, pensei, pensei. Enquanto isso, João Dória Jr. grita: "Cansei". O Lobão canta: "Peidei".

Pensando, cansado ou peidando, hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar.

Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio.

Isso não está certo.
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LUCIANO HUCK, 36, apresentador de TV, comanda o programa "Caldeirão do Huck", na TV Globo. É diretor-presidente do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias.

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2 comentários:

Marcos Ferreira disse...

Olha a coincidência.

Acordei atrasado, perdi a aula e, pra passar o tempo, como nunca fiz antes, assisti Ana Maria Braga. Ela falou desse texto do Luciano Huck. Acidentalmente encontrei seu blog e vc falou do texto do Luciano Huck - ou seu amigo do amigo do seu concunhado. Whatever.

E fiquei meio indignado. Pois:

Um: odeio drama. Tudo bem, ele foi assaltado. Roubaram o relógio. Ele achou que ia morrer. Daí a começar um texto falando que morreu?... Eu ia começar esse comentário falando que comi a Juliana Paes - a vi de longe no sábado. rs

Dois: É exatamente o que o seu ami - deixa - falou. O pobre do LH acabou de descobrir que há violência no Brasil. Ele está supreso, indignado e ofendido porque paga seus impostos (jura), tem uma ong e deixa o carro de gente que nao tem onde cair morta mais bonito. Ele está surpreso porque ele diverte, ajuda... Não devia ser assaltado.

Três, e concluindo: Nunca gostei do programa desse cara exatamente pela situação às quais ele expõe quem quer que seja que precise de 10 mil pra pagar as "dívida". É entretenimento puro. Tem uma música triste e a platéia aplaudindo. Agora ele está expondo seu assalto com a meeesma música triste. Esperando a platéia aplaudir.

Cansei.

Anônimo disse...

Bom, sobre o assunto do post eu não tenho muito o que falar, mesmo porque não sei se concordo em parte ou não. Sempre achei o Luciano Huck um dos poucos apresentadores não sensacionalistas da TV, se é que isso existe. Não sei se o artigo dele no jornal foi um dramalhão ou um protesto.
To deixando este recado mais só para falar que sempre leio seu blog professor, posso ler atrasado e não comentar, mais leio.