3.10.06

Situação política preocupante

Quem me conhece sabe das minhas preferências ideológicas e partidárias, mas tento não ser tão radical quanto era antes. Lembram que eu falei que essa 'desilusão' com a política poderia ter efeitos negativos se nós, que temos condições de nos informarmos, desistíssemos de melhorar o país através da democracia?

Esse desinteresse, aliado à grande mídia que sempre, explicita ou implicitamente, nos dirige aos velhos coronéis e oligarcas que nos dominaram por tanto tempo, deu no que deu: a volta de gente como Collor, Eliseu Resende, Zezé Perrella, Humberto Souto, Paulo Maluf, Jader Barbalho, etc.

E a saída de cena de personagens como Delfim Netto (que apesar de ser um dos mais ativos 'gerentes' da ditadura, era uma pessoa respeitada por todos na Câmara) e Paulo Delgado, cuja entrevista o Moreno, do Globo, reproduz em seu blog:

Mais preocupante ainda é ver as coberturas escancaradamente parciais na grande mídia, denunciando tudo de um lado e fazendo vistas grossas para o outro. É bandido quem compra dossiê? É. Foram lá e corretamente denunciaram. É bandido quem rouba e faz por merecer um dossiê tão interessante? Também é. Mas tem alguém interessado em apurar estas denúncias? Nâo agora. E é bandido quem pega material de investigação da polícia pra dar pros jornais (as fotos do dinheiro)? É. Alguém está investigando ou mostrando isso na imprensa? Não.

Chico Buarque, em entrevista, diz nunca viu a figura do presidente da República ser tão desrespeitada quanto agora. Chico vê “uma rejeição despropositada”, “preconceitos arraigados”, e a vontade furiosa de “despachar” Lula do poder, o que seria um grave “retrocesso” para o País. Para ele (e pra mim), "fizeram o diabo para impedir que o Lula fosse presidente. Inventaram plebiscito, mudaram a duração do mandato, criaram a reeleição.

Finalmente, como se fosse uma concessão, deixaram Lula assumir. 'Agora sai já daí, vagabundo!'. É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu o luxo de ocupar a Casa Grande. 'Agora volta pra senzala!'. Eu não gostaria que fosse assim." (leia entrevista do Chico Buarque, publicada em Maio na Folha de São Paulo e na revista Carta Capital aqui ou ouça-a aqui).

A linguagem é pesada, chamam o presidente de "bandido" sem provas, outro (ACM Neto, acho) diz que "vai dar porrada no presidente", o presidente do PFL diz que "tem que acabar com essa raça do PT", e todo mundo acha normal... milagre ainda não terem acusado o PT da queda do avião no fim de semana :-)



E as pesquisas eleitorais cujas maiores surpresas, não por acaso, foram o segundo turno do Maranhão, em que Roseana Sarney ganharia no primeiro turno (segundo os institutos de pesquisa ligados aos jornais, rádios e TVs que, coincidentemente, são da família Sarney), e o pior, a vitória de Jaques Wagner na Bahia, no 1o turno, quando os institutos de pesquisa (blablabla, de novo, pertencem coincidentemente à família de ACM) indicavam o oposto, a reeleição do fantoche Paulo Souto, afilhado político de ACM? Dá pra acreditar em pesquisa?


(ACM, no palácio do governo, domingo, 1/10, ao saber da notícia de que seu pupilo havia sido derrotado em 1o turno)



Vale a pena ler e refletir, tenho me poupado de ficar mandando essas coisas pra não confundirem com minhas preferências partidárias, mas essa inversão de valores, com as velhas raposas subitamente posando de paladinos da moralidade diante dos supostos novos bandidos que seriam piores que eles (o que justificaria sua volta, pois antes, na visão deles, seria menos pior), atinge a todos os partidos e, por conseqüência, a todos nós, que vamos sofrer com esses péssimos senadores, deputados, governadores e - deixa pra lá, isola :-)

Esse clima de todo mundo a favor da volta ao que era antes - incluindo até a justiça - é muito preocupante, porque a gente se sente impotente e alijado das decisões, porque as verdadeiras razões, motivações e objetivos desse pessoal permanecerão ocultas aos nossos olhos, parece que somos convidados a participar como figurantes do processo, apenas para validá-lo, uma espécie de atestado de idoneidade, quando deveríamos ser os protagonistas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Grande Tales, analista político.

Cara, política é um troço perigoso. Primeiro porque muitas pessoas tem ponto de vista e percepções diferentes. E eu com minha ignorância a respeito acabo concordando um pouco com todos.

Por isso estou tão na dúvida em quem votar agora no segundo turno. Mas uma coisa é certa: PSDB eu não quero. Fica realmente só a pulga atrás da orelha com relação aos problemas pelos quais o PT parece ter participação.

Abraço!

Eduardo Davis disse...

Grande Tales.... só sei uma coisa...ninguém é santo! Mas, a quadrilha que cercava o Lula era (ou é) amadora e fizeram bobagem demais. Mesmo que a imprensa quisesse muito, não conseguiria criar histórias tão atrapalhadas e, digamos, fantásticas. Do outro lado, a oposição também foi amadora. Se os papéis fossem inversos, e o José Serra estivesse no lugar do Lula e tudo acontecesse de forma similar, era impeachment na certa!... Eu sempre falo... eu acredito na distribuição de renda: uma quadrilha rouba por quatro ou oito anos e depois é a vez de outra quadrilha... distribuindo renda de maneira igual e humana. É assim.

[]ão