22.11.07

A hipocrisia do cidadão

Li esse texto, do Roberto Motta, um leitor do Blog do Noblat como eu e, provavelmente, você, que lê o meu blog :-)

A gente lê, relê, desanima, tenta achar uma saída. Não tem jeito, porque é exatamente isso: a maioria de nós, brasileiros, cometemos pequenos (e/ou médios e/ou grandes) delitos o tempo todo, e nos achamos no direito de reclamar do governo, reclamar dos impostos, reclamar da violência, reclamar da falta de educação do outro.

Mas furamos sinal, jogamos lixo no chão, paramos em fila dupla ou em cima da faixa de pedestre, subornamos policiais, adulteramos medidores de energia elétrica e água, fazemos gato de TV a cabo, compramos CDs e DVDs piratas, jogamos no bicho, fazemos carteirinha falsa de estudante, deixamos de pedir nota fiscal, votamos no amigo do cunhado da tia, sem saber das suas propostas.

E, no fim, reclamamos dos impostos que ajudamos a sonegar, colocamos a culpa nos políticos, nos pobres, nos "ignorantes que não sabem votar, que são manipulados pelos 'bolsas-pobre' do governo".

Nossos delitos? Ah, eles são justificados com aquelas frases: "é só um minutinho", "não estou fazendo mal a ninguém", "não vou resolver sozinho os problemas do mundo", "pra que vou pagar impostos pra esse governo ladrão", etc...

A gente deveria fazer o básico, como pregavam os incas. Aprendi isso há alguns dias, lendo um texto acho que da Maria Helena Rubinato. Segundo os incas quem obedecesse aos preceitos ‘ama sua, ama lulla, ama chella’ (‘não roube, não minta e não seja preguiçoso’), quando morresse iria viver ao calor do sol. Os outros passariam os dias eternamente na terra fria. Nós estamos fazendo nossa terra cada vez mais fria, injusta, insuportável de viver. Porque mentimos, roubamos e temos preguiça. Básico.

Segue o texto do Roberto Motta:

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Os valores de uma sociedade vêm das crenças e das ações dos homens que fazem parte dela. São esses valores que serão representados pelos políticos e administradores públicos que vão decidir os rumos do país.

Uma sociedade não pode eleger representantes melhores que ela. Uma sociedade que acha normal jogar no bicho não pode esperar que os seus representantes combatam o crime. Uma nação que se utiliza da propina para resolver entraves burocráticos, não tem o direito – e nem a mínima possibilidade – de exigir que seus representantes não façam o mesmo. No Brasil, a propina vai de baixo para cima.

É a hipocrisia nacional: as pessoas acreditam que, embora façam o que quiserem, o resto do país deveria obedecer a lei.

É o pobre que reclama do crime, mas joga no bicho, e com isso sustenta seus algozes.

É a hipocrisia do cidadão que compra uma carteira de estudante, e do legislador que força o cinema a vender-lhe meia-entrada. É a cara-de-pau das instituições “estudantis” que compactuam com essa farsa.
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