9.2.07

Animais

De tudo o que já se escreveu e falou sobre a monstruosidade do assassinato do menino de 6 anos arrastado no carro pelos bandidos ontem - passando, como sempre, por jornais e pessoas que gostam de descrever as minúcias de como ele 'quicou como um papelão', ou 'arrastado como um saco de batatas', ou 'parte da cabeça e massa encefálica' e outras coisas absolutamente desnecessárias, o que mais gostei foi esse post que Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa colocou no blog do Noblat, oportunamente intitulado "Trevas":

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Na hora em que Jesus Cristo morreu, as trevas se abateram sobre Jerusalém. O dia virou noite. Ontem, as trevas se abateram sobre o Rio de Janeiro, sobre esta cidade outrora tão luminosa. As mesmas trevas que Deus enviou quando sofreu a morte de Seu filho. Agora, foram as trevas de Sua dor e decepção com o Homem. De nada adiantou o sacrifício do Cristo, de nada adiantaram as palavras de tantos santos homens que passaram pela Terra, fundadores das mais variadas religiões.

Finalmente, o mal venceu. A impunidade cevou a maldade, em seu estado bruto, cruel, desumano. Os monstros que ontem assassinaram essa criança de 6 anos, não poderão jamais alegar que não sabiam, pois foram avisados por toda uma população ao longo daqueles intermináveis sete quilômetros. Pedestres e passageiros de outros carros de tudo fizeram para que os animais parassem, mas não, eles continuaram na sua vileza.

Estacionaram o carro no primeiro lugar menos habitado que encontraram, trancaram as portas e desceram uma escadaria com a tranqüilidade dos grandes criminosos, protegidos que sabem estar pela frouxidão reinante em nosso país, de norte a sul, de leste a oeste, de cima para baixo.

A penitenciária para onde irão lhes dará o direto de receber quantos advogados queiram, celulares, saídas em dias especiais para visitar a mamãe, o papai, a vovó. Receberão suas amantes em celas privadas, terão direito a visitas, ao banho de sol, à progressão das penas, à liberdade condicional, à proteção das entidades tão preocupadas com os Direitos Humanos que se esqueceram do Homem.

Um deles, menor de idade, esse será protegido pelo Estatuto do Menor, pegará no máximo três anos de recolhimento, três anos, a metade do tempo que ele permitiu que João Hélio vivesse.

Não vou repetir aqui o que os jornais de hoje trarão: a descrição pormenorizada do horror, da brutalidade, da crueldade, do calvário do menino.

Não quero falar na mãe, no pai, na irmã. Não quero tentar descrever o que tenho certeza absoluta passa por seus corações. Sou mãe. Sou colega dela, sou sua igual, gerei um filho em meu ventre e sei o que se passa com ela.

Fiquei muito tempo diante desta página. Preciso cumprir meu compromisso com o Noblat, escrever e enviar um artigo todas as sextas-feiras. Não quero explorar a dor dessa família, não quero transformar o sacrifício do João Hélio em assunto de um mero texto. Não quero. Mas meu coração não consegue pensar em outra coisa.

Ofende os bons quem poupa os maus. Enquanto pouparmos esses monstros, eles nos ofenderão. A ociosidade pode ser a responsável por todos os vícios. Mas a impunidade é a razão de ser de todos esses crimes que vêm acontecendo em nosso país, cada dia mais trágicos, mais violentos, mais medonhos.

Quando eu era jovem, se um criminoso dessa laia fosse preso, a preocupação das autoridades era evitar que ele fosse assassinado na cadeia, sentença dada pelos outros presos. Hoje, infelizmente, creio que não correm mais esse risco. Que pena.
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