22.3.07

Elle voltou... lamentável

Ontem, 21/03/07, o presidente Lula recebeu a bancada do PTB, partido que compõe a base de sustentação do governo, e o que mais chamou a atenção foi a recém-chegada principal estrela do partido: o ex-presidente cassado Fernando Collor de Melo.

Pensar nesta figura, lembrar desta figura me dá nojo. Sua campanha oportunista em 1989, sustentada pelas oligarquias e pela mídia tradicional, principalmente Veja e a Rede Globo, mostrava um cara jovem, renovador, que combatia a corrupção em seu estado (era governador de Alagoas até então). Não diziam que era descendente de família de políticos que se fez na ditadura e empresários de comunicação em Alagoas, que nem no estado morava, cresceu como playboy em Brasília, típico filhinho de papai irresponsável e impune. E que seu governo era, paradoxalmente, o mais corrupto do Brasil.

Nada que uma campanha bem-bolada, ajudada pelos veículos de sempre, os que cresceram com a ditadura - Globo e Veja, não resolvesse. Pois Collor saiu do zero, candidato por um partido que tinha acabado de fundar, o PRN - Partido da Reconstrução Nacional, virou favorito, acho que uns 40%, e foi disputar segundo turno com Lula, que tomou de Brizola o segundo lugar na última hora. Collor era o franco favorito, disparado. Lula, porém, com a adesão de todos os artistas, intelectuais, religiosos, pessoas sérias, organizações não-governamentais, estudantes, enfim, todo mundo que se preocupava com o perigo que este playboy da ditadura representava, voltou a encostar.

(essa parte agora foi copiada do Noblat, porque está bem sintetizada, não faz sentido eu copiar e mudar o texto, melhor dar o crédito).

Lula, que vinha crescendo na reta final da campanha, deslizou para a derrota depois da inusitada aparição de uma ex-namorada, Miriam Cordeiro, no programa eleitoral do PRN.

A cinco dias do segundo turno, Miriam encenou sob a direção de Collor um dos mais infames espetáculos de baixaria da história política brasileira - talvez o mais infame.

Acusou seu ex-namorado de "detestar negros". E de tê-la induzido ao aborto, no momento em que foi comunicar que estava grávida de Lurian, filha dele.

No maior país católico do mundo, onde mais da metade dos brasileiros não queria e não quer ainda mexer na lei do aborto, a confissão de Miriam explodiu como uma bomba – e Lula acabou perdendo a eleição por 4 milhões de votos entre 66 milhões apurados.

Era uma autêntica produção collorida para fins eleitoreiros.

Miriam foi convencida a dar seu depoimento em rede nacional de TV em troca de cerca de 250 mil cruzados - a finada moeda de Sarney que, hoje, representaria algo como 680 mil reais.

Nada mau para ela que vivia modestamente. Nada bom para uma democracia que enfrentava sua primeira eleição direta para presidente depois de um quarto de século de regime militar.

(fim do trecho copiado do Noblat)

O pior nem foi isso: acho que dois dias antes da eleição, o famoso 'debate da Globo' foi uma farsa, totalmente editado pra aparecer no Jornal Nacional no dia seguinte, véspera da eleição. Uma vergonha, até hoje me lembro de cada cena. No dia deste Jornal Nacional que entrou pra história da manipulação de fatos pela imprensa, Lula tinha acabado de passar Collor nas pesquisas, algo como 43 a 42%, menos que isso. Mas tinha passado. No dia seguinte a gente sabe o que deu. E depois, o governo que elegemos (elegeram). Tenho orgulho de ter ido às ruas apoiando Brizola no primeiro turno, Lula no segundo, e pedindo o impeachment de Collor depois.

Ainda vou achar o vídeo com essa 'matéria' sobre o debate. Noblat achou os vídeos com a repugnante denúncia de Collor com a ex-mulher de Lula (clique aqui)e a resposta de Lula (clique aqui). Mas, no Brasil, sabemos bem, reputações são destruídas com denúncias vazias, o ônus da prova cabe ao acusado, e não a quem acusa. Casos como a Escola Base, Ibsen Pinheiro, vários outros que acontecem o tempo todo estão aí pra nos alertar.

Em suma: é uma vergonha ver esse cara de volta. Lula, como estadista, não pode deixar de recebê-lo, pois está desempenhando um papel público, e o outro também. Mas, por favor, presidente, pare por aí.

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