10.11.06

Em pauta, a ética e a democratização dos veículos de imprensa

Voltando ao assunto dos exageros (absurdos, em alguns casos) cometidos pela imprensa nos 2 últimos anos contra o governo e particularmente na campanha eleitoral... agora, mesmo os jornalistas sérios, apesar de concordarem com a falta de escrúpulos de gente como Mainardi e seus companheiros da Veja, além de outros do Estadão e Folha, levantam a bandeira da liberdade de expressão, como forma de proteger seus pares. Mas será que não há nada mesmo errado? Até FHC disse que "é preciso admitir que nos últimos dias os meios de comunicação foram bastante duros com Lula" (veja notícia aqui).

Vejam o escândalo em que a Folha de São Paulo se meteu. Na quebra do sigilo telefônico de Gedimar Passos, um dos envolvidos no caso do dossiê, foram monitorados, com ordem judicial, 168 telefones. A Polícia Federal constatou que vários eram de empresas jornalísticas ou de jornalistas, vários da Folha, que faz hoje uma longa reportagem sobre a questão em varias matérias.

O próprio advogado da empresa considerou o monitoramento “abusivo da atividade jornalística”. Juristas ouvidos pelo jornal vão mais longe e falam em violação do princípio constitucional do sigilo da fonte, em devassa, em atentado à liberdade de imprensa, que o próprio juiz que autorizou poderia ter praticado crime e por aí vai. Ou seja, pimenta nos olhos dos outros não arde.

A pressão promete ser grande. Até porque o presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e alguns de seus mais influentes (possíveis) colaboradores, como o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), já declararam e deram sinais, durante e após a campanha, que a democratização dos meios de comunicação no Brasil é uma questão latente.

Ao todo, 133 políticos que receberam, pelo poder do voto, cargos legislativos para o quadriênio 2007-2010, possuem alguma ligação com empresas de radiodifusão no País – seja por controle acionário próprio ou de parentes, empréstimos realizados no passado ou cotas de capital. Alguém tem alguma dúvida sobre a que partidos pertencem a maioria desses políticos-empresários de telecomunicações? Claro, aos partidos de direita, que sempre controlaram o Brasil e que não aceitavam - e não aceitam - a reeleição de um presidente eleito contra a sua vontade.

O PMDB é o campeão disparado de parlamentares detentores de concessão: são 12 deputados estaduais, 13 federais e sete senadores. Logo atrás, vêm o PFL e o PSDB, com 12 e oito estaduais, nove e dez federais e nove e seis senadores, respectivamente. A lista completa está disponível aqui

Os blogueiros-colunistas-fascistas da Veja, por exemplo, passam o dia reclamando que o governo está cerceando a liberdade da imprensa ao reclamar dela, mas não publicam comentários que discordam destas opiniões. Um deles (ainda bem que é tão inútil que nem me lembro o nome) chega a dizer "pronto! Eliminei a petralha (nome que ele dá aos que discordam dele, supostamente petistas) deste blog. Agora está muito mais limpo aqui".

Enquanto tivermos políticos donos de meios de comunicação, ou veículos de comunicação diretamente envolvidos ou comprometidos com um partido ou ideologia, fica difícil acreditar de verdade em democracia. Como costumo citar em minhas aulas ao tratar de ética, liberdade de expressão de direito à privacidade no Comércio Eletrônico, "todos estão dispostos a defender a liberdade de expressão enquanto não ferir seus princípios pessoais". Em outras palavras, "pimenta nos olhos dos outros é refresco" mesmo.

Por outro lado, a resposta a atrocidades como as que a Veja fez e faz devem ser dadas pelos seus leitores, que, assim como o povo humilde e discriminado mostrou que não aceita mais ser manipulado ao votar este ano, podem deixar de assinar ou protestar contra a revista, forçando-a a ser menos escancarada na sua ideologia. Como disse esta semana o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, "a imprensa não precisa ser justa, precisa ser livre".

Nenhum comentário: