Os mineiros são tolos? Por que endeusamos um espertalhão?

Já escrevi várias vezes sobre nosso "governador virtual" Aécio Neves, sua personalidade, sobre a verdadeira governadora Andréa Neves e sobre a falsa imagem que tenta passar visando o objetivo que traçaram em família desde que nasceu: ser presidente da República.

Para isso, conta com uma imprensa bajuladora que só publica notícias favoráveis e que, quando há alguma voz dissonante, simplesmente manda demitir o responsável. Por voz dissonante entenda-se que não se pode nem ser neutro, muito menos crítico: é necessário bajular o tempo todo. Casos como o de Jorge Kajuru, demitido no intervalo de uma reportagem sobre a farra promovida pelo governador no Mineirão quando do jogo das eliminatórias entre Brasil e Argentina, em 2001-2002 são amplamente conhecidos, mas continuamos cegos aqui em Minas, reelegendo e aprovando essa figura com índices que deixariam Hugo Chávez e Saddam com inveja.

Já tive alunos e colegas que trabalharam no jornal Estado de Minas, todos afirmando que é freqüente a presença de Andréa Neves na redação, opinando, sugerindo e censurando matérias. É assim que a coisa funciona.

Outra coisa que me deixa indignado é a sua postura "mineira" de nunca dizer não, nunca dizer sim. Tem gente que acha isso bonito e atribui a Minas essa propriedade de nunca tomar decisões, de sempre ficar em cima do muro, de dizer que "política é como as nuvens: uma hora estão de um jeito, outra hora de outro". Tenho ódio desse tipo de gente e muita gente aqui se orgulha de ser uma característica dos mineiros, que repudio. Isso pra mim é falsidade, incapacidade e oportunismo.

A boa notícia é que, não havendo possibilidade de discordância aqui dentro, lá fora começam a perceber que este cara não faz nada a não ser propaganda de si mesmo. E, pasmem, a notícia a seguir saiu na VEJA. Sim, na VEJA, pode? O mundo tem salvação mesmo, acreditem!

Para azar dos mineiros, governados por esse espertalhão, para tristeza dos puxa-sacos que, por falta de opinião ou consciência, se apegam ao motivo "temos que colocar um mineiro na presidência", mas para felicidade do Brasil, apesar de todo o investimento (com nosso dinheiro) em marketing, na criação de uma imagem de gerente eficiente em todo o Brasil, as chances desse sujeito ganhar as eleições pra presidente em 2010 são quase zero.

Ou ele vai ter que sair do PSDB (onde Serra, infinitamente superior, mais conhecido por já ter disputado uma eleição presidencial e por governar atualmente São Paulo, deve ser o candidato com ótimas chances), ou vai buscar refúgio em algum partido da base aliada do governo (provavelmente PMDB) pra ser apoiado por Lula, o que não é pouca coisa.

A última que ele jogou pra torcida foi a questão do foro privilegiado para os deputados estaduais e mais um monte de gente aqui no estado. Esse projeto medonho garante a impunidade a milhares de pessoas, que podem cometer toda sorte de crimes, só podendo ser julgadas pelo Supremo (que, como sabemos, nunca condenou ninguém).

Ele se mostra "justo e honesto", vetando o projeto, mas já combinado com os deputados que eles irão aprová-lo assim mesmo, pois, se de fato quisesse que o projeto fosse rejeitado, bastava comandar sua base, pois controla a maioria absoluta dos votos. Sai como bonzinho, vai usar isso na próxima campanha, e deixa pros deputados, com imagem já pra baixo de zero (do chão não passa) a responsabilidade por essa aberração.

Segue o texto completo do André Petry, tirado do Blog do Noblat:

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Os mineiros são tolos?

Por André Petry na VEJA de 12/08:

"Aécio Neves nunca perdeu uma votação relevante na Assembléia Legislativa de Minas. Nem no primeiro nem no segundo mandato. Dos 77 deputados, ele tem o apoio de, no mínimo, sessenta. Ganha de lavada, sempre. Agora, esperto como uma raposa, perdeu

Os bons mineiros sabem que a esperteza, quando é excessiva, acaba comendo o próprio dono. É o que parece estar acontecendo com o governador Aécio Neves, de Minas Gerais. Ele acaba de vetar uma excrescência aprovada pela Assembléia Legislativa, que mutila a ação dos promotores estaduais e dá foro privilegiado a quase 2.000 autoridades do estado. E a Assembléia Legislativa, com maioria estrondosa, acaba de derrubar o veto. E o governador, esperto como uma raposa, acaba de dizer que lamenta a decisão dos deputados, mas, sendo um "democrata", vai respeitá-la.

Parece bonito, mas é pura esperteza.

Aécio Neves é um governador muito bem avaliado, tanto que foi reeleito com votação estonteante e seu nome é presença constante em qualquer lista de candidatos ao Palácio do Planalto em 2010. Com todo esse capital, poderia ter feito o que dele se esperava: vetar a vilania do foro privilegiado e orientar sua bancada para manter seu veto de pé. Aécio Neves, esperto como uma raposa, querendo fazer bonito para os dois lados, a opinião pública e os deputados, entregou um doce para cada um. Seu veto agrada ao eleitor mineiro. Sua inércia à derrubada do veto é mimo para deputados.

Parece esperteza que dá certo, mas ela é carnívora.

Aécio Neves nunca – repetindo: nunca – perdeu uma votação relevante na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Nem no primeiro nem no segundo mandato. Dos 77 deputados, ele tem o apoio de, no mínimo, sessenta. Ganha de lavada, sempre. Tanto que o deputado Sávio Souza Cruz, que, embora seja do PMDB, não reza pela cartilha do governador, já sugeriu trocar o nome da Casa para "Assembléia Homologativa de Minas". Agora, esperto como uma raposa, Aécio Neves perdeu: 60 contra, 9 a favor e 1 abstenção. Basta conferir quem, antes, votara pela ampliação do foro privilegiado. Na lista estão o líder do governo de Aécio (Mauri Torres), o líder do partido de Aécio (Luiz Humberto Carneiro) e o líder da maioria de Aécio (Domingos Sávio).

Com seu veto derrubado, Aécio Neves recusou-se a promulgar a lei. Caberá à própria Assembléia Legislativa fazê-lo. Aécio Neves terá direito a dizer no palanque que vetou o projeto insano duas vezes e se recusou a promulgá-lo. A esperteza é olímpica, mas a condição do sucesso é que os mineiros sejam tolos. Se estavam certos quando reelegeram Aécio Neves, tolos é que não são.

Criado no Brasil imperial, o foro privilegiado não presta para nada, a não ser para jogar lenha na fogueira da impunidade e dividir os brasileiros entre a minoria da casa-grande e a maioria da senzala. Eles e nós, em resumo. No caso mineiro, o foro antes privilegiava apenas três autoridades. Agora, na massa de quase 2.000, entra uma boiada, inclusive, é claro, os deputados estaduais.

Aécio Neves ainda tem chance de recuperar-se. Pode ir ao Supremo Tribunal Federal alegar que a lei dos deputados é inconstitucional. O procurador-geral de Justiça, Jarbas Soares Júnior, um genuíno interessado em barrar a patacoada, já anunciou que fará isso.

Se Aécio Neves for junto, comerá a esperteza."
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Sobre os comentários do Rafinha: amigão, seus comentários são corretos, e reconheço que minha visão sobre o governador de Minas não é imparcial, porque eu realmente fico revoltado com esse domínio que ele (ele não, sempre esqueço, a Andréa Neves) tem sobre a opinião pública aqui. Acho que ele tem seus méritos, mas de maneira alguma merece ser endeusado como é, como se fosse um cara perfeito, que salvou Minas Gerais e que merece ser nosso presidente. Muito pelo contrário, na minha opinião ele passa longe disso. Pelo menos aqui no blog é permitido ter opiniões divergentes e discordar, né? :-)