13.5.07

Imprensazinha ordinária - olho em Minas também!

Este fato é tão vergonhoso que tive que copiar-colar o post inteiro, enviado por Inácio França para o Blog do Noblat.

A imprensa brasileira, que se une e protesta quando alguém reclama que ela é parcial, dizendo que isso é um absurdo, que isso não existe, apesar de todas as evidências, se cala quando acontecem coisas como essa. Quando pessoas ligadas ao PT são suspeitas de alguma coisa, a imprensa já noticia "petista é preso blablabla". Se a pessoa é ligada a um dos partidos donos da mídia, como PFL e PSDB, quando sai na imprensa, sai sem a associação da figura ao partido, algo como "advogado é preso blablabla".

Costumo dizer aos meus alunos, ao alertá-los para os e-mails que prometem prêmios, bastando a pessoa reenviá-los para dezenas de outras, que não existe nada de graça na Internet, e que nenhuma notícia sai só na Internet, que a imprensa cumpre seu papel, e que, se a notícia é verdadeira, vai sair também nos jornais, rádio e TV. Ao ler a notícia abaixo, eu fico com a impressão de que estou falando bobagem...

Os mais atentos notarão a semelhança entre o que se fez em Pernambuco e o que se faz aqui em Minas, por Aécio 'Chuck Norris' Neves.

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O dia em que a mídia censurou os leitores

O empresário Marcelo Tavares de Melo, genro do poderoso João Carlos Paes Mendonça, casado com sua única filha, foi acordado de manhã cedo pela Polícia Federal. O porteiro do prédio na sofisticada avenida beira-mar de Boa Viagem deve ter custado a acreditar no que presenciava: os hômi, de jaleco preto e letras amarelas, levando o dotô! Paes Mendonça, donos dos maiores shoppings-center de Pernambuco, dono do Jornal do Commércio, dono de uma Tv que retransmite o SBT, dono de rádios.

Antes das 9h, praticamente toda a Imprensa pernambucana já sabia da prisão do empresário e de quase toda a diretoria do grupo Tavares de Melo, acusados de formar cartel para padronizar o preço da gasolina e de praticar dumping. Os sites dos três jornais continuavam mantendo seus leitores na santa ignorância, as rádios continuavam mudas. É verdade que a CBN, em seu noticiário nacional, noticiou. Na programação local, cuja franquia está nas mãos de Paes Mendonça, silêncio absoluto.

Foi aí que começou a acontecer algo curioso: os leitores mais bem informados começaram a fazer comentários nos blogs hospedados nos portais dos jornais pernambucanos. Mesmo antes das prisões serem noticiadas pelo NE TV e por um blog independente, Acerto de Contas (temporariamente hospedado no portal do JC, mas com as horas contadas), os leitores cobravam informações dos veículos de comunicação. Algo inesperado, impensável para os jornalistas do grupo: leitores cobrando uma posição dos jornalistas. Logo de jornalistas, profissionais acostumados a, em nome de seus patrões, representar o papel de fiscais e palmatória do mundo.

Foi um deus nos acuda. Os blogueiros passaram horas deletando comentários. No portal JC Online, houve uma súbita mudança nas regras para os comentários das notícias: antes liberados, passaram a depender da aprovação de um mediador. Curiosamente, o mesmo aconteceu nos blogs e sites mantidos pelas empresas concorrentes. Foi assim no blog da Folha (da Folha de Pernambuco), também no Pernambuco.com, do Diário de Pernambuco. Um caso raro de leitores censurados pela mídia.

O episódio é bastante interessante e pode ilustrar a dificuldade que os donos dos meios de comunicação tradicionais (e os jornalistas a seu serviço) têm para lidar com o fato de que, as novíssimas tecnologias, tornaram o processo de comunicação multicêntrico, descentralizado e, o melhor, um pouco mais democrático. No episódio mencionado, durante várias horas, tentou-se impedir o estouro da barragem, vazando água por diversas fissuras, usando pequenas rolhas de cortiça. A custo da credibilidade, no caso das empresas. A custo de algo que poderíamos chamar de dignidade profissional, no caso dos jornalistas.

Só no meio da noite, às 20h14min, um dos blogs assinados por um jornalista do JC publicou a informação da prisão dos empresários. Marcelo Tavares de Melo, o genro do patrão, foi apresentado como o sócio da distribuidora de combustível Ello-Puma. Cinco minutos depois, nova postagem: desta vez, anunciando que o advogado dos empresários considerava a prisão arbitrária e desnecessária.

Foi impossível não lembrar da cobertura dos episódios envolvendo os petistas em 2005 e 2006, todos julgados e condenados durante os telejornais antes mesmo do fim dos depoimentos. Não seria o caso de tratar a todos com os mesmos pesos e medidas?

Também vale ressaltar para um fato interessante, que diz respeito aos que se interessam pelo modo como os acontecimentos viram notícia: durante todo o dia, vários repórteres telefonaram para os editores do blog Acerto de Contas (de quem não tenho autorização, mas sou amigo pessoal), sugerindo que fossem mais "cuidadosos" e avisando que eles iriam perder o direito à hospedagem. Será que em Pernambuco a honestidade profissional de um repórter custa o equivalente a hospedagem em um provedor de Internet?

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