Muito se debateu durante a visita do Papa - que gerou tanta notícia que parece que ele ficou aqui por uns 20 dias - sobre a posição da Igreja Católica no tocante a planejamento familiar, métodos contraceptivos, uso de preservativos, divórcio, aborto, etc. Até um zé-ninguém como eu já escreveu sobre isso (aqui).
Como disse muito bem o André Petry, da Veja, em 12/05/07 (OOOOOOH! Tem coisa inteligente na Veja de vez em quando), esse assunto não é chiclete pra um puxar pra um lado, outro puxar para o outro.
A posição correta, que ele e outras pessoas sérias defendem, é a Igreja cuidar dos católicos, e os governos cuidarem do seu povo. Nem o papa, os bispos e ninguém da Igreja devem se meter a dar palpite sobre políticas públicas de saúde, nem as pessoas devem criticar a posição ideológica da Igreja Católica ou qualquer outra igreja. Por mais retrógradas e absurdas que sejam, suas recomendações sobre sexo e casamento valem pra quem quiser seguí-la, ninguém é obrigado.
Este trecho do texto supracitado (viu, Preta? :-) resume de forma brilhante a posição sensata que se deve ter (para texto completo, clique aqui e acesse o post do Noblat):
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Está tudo errado. Certo mesmo seria que, num estado laico e com liberdade de culto, cada lado pudesse viver segundo suas convicções. Portanto, está certo o papa quando defende a excomunhão de políticos que aprovam o aborto. O PPS chegou a divulgar nota criticando a postura supostamente autoritária do papa. Não é autoritária. O deputado José Genoíno, que começa a voltar à luz depois de ser abatido pelo mensalão, acha que é uma posição intolerante. Também não é. É apenas uma posição da Igreja Católica válida para os católicos. "O direito de matar um inocente, uma criança humana, é incompatível com estar em comunhão com o corpo de Cristo", disse o papa. Eis a palavra do representante do Deus dos católicos na Terra. É simples. Quem concorda vive segundo esses ensinamentos. Quem não concorda tem o direito de rezar em outra freguesia ou de não rezar em freguesia alguma.
O outro problema é quando o chiclete espicha para o outro lado – e a Igreja Católica não se contenta em falar apenas ao seu rebanho. É contra o aborto? Nenhum problema. Que oriente seus fiéis para que jamais o façam. Em vez disso, a Igreja Católica quer que o estado brasileiro mantenha uma proibição legal que atinge a todos... É contra o uso da camisinha, pois, segundo a clarividência divina de dom Geraldo Majella, ela incentiva "a criança, o adolescente" à "promiscuidade"? Nenhum problema. Peça aos seus fiéis, "a criança, o adolescente", que se abstenham de usá-la. Em vez disso, a Igreja Católica quer que o governo brasileiro suspenda a distribuição de camisinha nos postos de saúde para todos os brasileiros... não gosta que os adolescentes "fiquem", pois, segundo a infinita elegância de dom Dimas Lara Barbosa, as meninas que o fazem se comportam como "garotas de programa"? Nenhum problema. Basta orientar suas meninas a não se comportarem como "garotas de programa". O raciocínio vale para tudo. Casamento gay, eutanásia, divórcio. Quando não é assim, fica parecendo que a Igreja não confia na sua capacidade de convencer seus fiéis e precisa transformar seus pontos de vista em obrigação legal para todos.
É sempre bom lembrar que a plena liberdade de culto, que a Igreja Católica tão corretamente defende, contempla a liberdade de qualquer culto, inclusive nenhum".
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Então, com tudo isso, e todo medo que as pessoas têm ao lidar com assuntos que possam polemizar com religiosos (os políticos então, escorregam como peixe ensaboado quando perguntados sobre esses assuntos), acho sensacional a campanha lançada pelo presidente Lula hoje, ao oferecer anticoncepcionais com 90% de desconto nas farmácias credenciadas ao Farmácia Popular, a valores entre R$ 0,30 e R$ 0,40, e passando a realizar cirurgias de vasectomia pelo SUS (leia notícia aqui).
Vai ter padre, bispo e sei lá mais quem chiando, dizendo que o mundo está perdido, que vamos todos pro inferno? Azar. O que precisamos no momento é de menos mulheres morrendo ao realizar abortos clandestinos, menos pessoas pobres contraindo doenças sexualmente transmissíveis e menos famílias pobres com 15 crianças pra (não) cuidar.
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