19.3.07

O mau gosto de algumas campanhas publicitárias

Como diria o Sílvio Santos, "eu não vi, mas o Noblat viu" :-)

Campanhas de gosto duvidoso exaltando o famoso "jeitinho brasileiro" sempre existiram e sempre me irritaram. Esta instituição genuinamente brasileira, em que nós supostamente gostamos de levar vantagem em tudo, é atribuída oficialmente a um comercial de cigarros com o ex-jogador Gérson na década de 1970, acho. Inclusive discute-se isso até hoje, se eles de fato quiseram levar pro lado da sacanagem, com a expressão (não sei se é assim mesmo) "brasileiro gosta de levar vantagem em tudo, certo?". Os autores dizem que não.

Como também se discute se a ainda mais célebre frase "os fins justificam os meios", que levou à criação do termo "maquiavélico" pra designar um cara que faz de tudo pra atingir seus objetivos, não foi tirada fora de contexto da obra de Maquiavel. Não tenho conhecimento suficiente para me posicionar a favor ou contra, quem sou eu. Mas vou ler e ter minha opinião :-)

Bom, voltando ao assunto, me vem à cabeça um comercial simplesmente ridículo da Ford de alguns anos atrás, mostrando que quem era cliente Ford teria direito a passar por cima dos direitos dos outros. Uma propaganda era um avião jogando um passageiro pra fora pra colocar um cliente Ford. Em outra, o garçom desarrumava grosseiramente a mesa posta a um casal pra acomodar um outro casal, clientes Ford. Patético.

Agora, essa, da Brasil Telecom, tirada do Blog do Noblat e que pode ser lida aqui:

Um favor por R$ 15,00

A Brasil Telecom acaba de se credenciar ao Oscar publicidade de mau gosto. Botou no ar em horário nobre das TVs um comercial - "Aqui é o lugar" -, onde mostra uma velhinha subindo com dificuldade uma escada numa noite chuvosa. Aparece então uma loira bonitinha e pergunta se ela quer ajuda. "Por favor", alegra-se a velhinha. Boçal, a moça responde, com um sorriso cínico: "Por favor, não. São R$ 15.". Aí entra o locutor pra avisar que, de graça, só na Brasil Telecom.

O comercial levou alguns brasileiros sensíveis a protestar, indignados, junto ao Conselho Nacionl de Auto-Regulamentação Publicitária (CONAR). Um deles, o universitário Diego Cavalcanti Cunha, de Brasília, resume no torpedo que enviou à operadora o que muitos pensam do anúncio:

- Ao mostrar uma moça cobrando para ajudar uma idosa, a companhia ofende todos aqueles brasileiros que preferem acreditar no país e, mais ainda, aqueles que procuram de fato trabalhar por uma outra realidade. O resultado não podia ser pior: ao invés de criar uma imagem de uma empresa que aposta no país e busca melhorá-lo – caso das tantas que se associam a causas sociais e ambientais –, a Brasil Telecom prefere zombar de toda e qualquer noção de valor presente no Brasil. O resultado é um verdadeiro tiro no pé da própria empresa.

Moral da história: a Brasil Telecom levou na testa a abertura da representação n° 50/07 do Conar, que está investigando a grosseria do anúncio.

Continuo me indignando, apesar de mais exemplos em contrário, com as pessoas que dizem "só podia ser no Brasil mesmo", "ê povinho de m...", "essas coisas só acontecem no Brasil", "se fosse lá fora isso não acontecia" e coisas afins. A maioria imensa das pessoas que dizem que falta de educação, de senso comunitário, de respeito, etc são coisas intrìnsecas ao brasileiro e que não podemos fazer nada quanto a isso, pra mim estão apenas justificando a própria falta de educação, pois agem assim sem nenhum remorso.

Concordo - e luto contra isso no Foto Cidadão que muitos brasileiros são mal-educados. Os mais ricos principalmente, que acham que mais dinheiro significa mais direitos. Mas depende da gente mudar isso, não adianta ficar rindo do Brasil enquanto se empanturra de comida numa mesa ou puxa assunto inútil numa fila ou elevador, por falta de assunto melhor pra falar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sobre a famosa ( e falsa) Lei de Gerson, trata-se tão somente de um caso clássico de manipulação da opinião pública por deFormadores de Opinião , tão comum na mídia brasileira.
Eu assisti o comercial na época, e a mensagem era clara : "pra quê pagar mais caro por um cigarro para ter o mesmo prazer ?"
Levar vantagem, no CONTEXTO ORIGINAL do comercial era simplesmente pagar menos por um produto equivalente.Não há nada de desonesto nisso.Tão ilícito quanto procurar a mesma geladeira em varias lojas e ficar com a mais barata, "levando vantagem".
Foram os deFormadores de Opinião, que pinçando uma frase isolada do seu contexto original (um truque muito comum no extenso repertório de falcatruas intelectuais dessa classe de pseudo-sábios) , deram à ela uma conotação de desonestidade : "pra vc que gosta de levar vantagem em tudo ..."
Daí pra frente , como rastilho de pólvora, a tal Lei de Gerson (na verdade Lei dos deFormadores de Opinião) andou de boca em boca (ou teria sido de bico em bico?) se propagando exponencialmente graças ao popular hábito de papagaiar frases e comentários sem a devida verificação de veracidade, coisa difícil pra quem não gosta de pensar por si mesmo ou ir contra a opinião coletiva.
O problema com esse comercial do Vila Rica é que ele foi muito subjetivo, dando margem a interpretações maliciosas fora do seu contexto original.
Acho que quem "levou vantagem" (no sentido de "passar pra trás"), no final das contas, foram os deF. de Opinião, que perceberam o quanto é fácil enganar e manipular a opinião pública, para seu próprio deleite.


Rodolfo Cintra