Há bastante tempo só ando de carro, e utilizava as mesmas desculpas de todos: 'ah, não dá pra ir de bicicleta, BH só tem morro', 'ah, ônibus só anda lotado', 'ah, o metrô de BH é ridículo, quase inexistente'. Além disso, tenho que pegar meus filhos na escola e levá-los à casa deles, ou à minha, quase todos os dias, e aí o carro fica mais vantajoso.
Moro há quase 4 anos no União, a 1 quarteirão da Cristiano Machado, e trabalho há 1 ano no Santa Efigênia - após mais de 15 anos no Centro. De carro, dependendo do horário, levo de 20 a 30 minutos para percorrer os 7 Km que separam minha casa da Task. Sei que moro muito perto do trabalho, ao contrário da maioria das pessoas, e por isso as conclusões que eu tirar terão pouco valor.
Meu carro faz 7 Km/litro de gasolina dentro da cidade, então gasto 2 litros pra ir e voltar = R$ 5,40 por dia. O ônibus acabou de aumentar para R$ 2,90 (R$ 5,80 por dia), o frescão está a R$ 5,30 (R$ 10,60 por dia) e o metrô está a R$ 1,80 (R$ 3,60 por dia). Estou disposto a gastar 50% a mais de tempo e 50% a mais de dinheiro pra tirar meu carro de circulação e andar de transporte público. E pretendo fazer sempre que não tiver que pegar filhos na escola etc, o que ocorrerá 2 ou 3 vezes por semana este ano.
Com essas premissas, já imagino que será difícil ganhar do carro, mas vamos tentar mesmo assim. Minhas opções atuais fora o carro são:
1 - Ônibus convencional: tenho um monte de linhas a menos de 10 minutos de caminhada, na Cristiano Machado. Não tenho nenhuma frescura, mas gostaria muito de ir sentado, ou pelo menos não espremido. Sabemos que em BH, nos horários de pico, isso só é possível pra quem mora perto do ponto inicial do ônibus, o que não é meu caso. Os ônibus que posso pegar normalmente vêm de Venda Nova e região, e passam completamente entupidos. Inviável, infelizmente.
2 - BRT: Pretendo experimentá-lo logo que ficar pronto, vamos ver como vai ser a conexão no Centro ou se terei que caminhar até o Santa Efigênia.
3 - Metrô: a estação Minas Shopping está a uns 20 minutos de caminhada, mais uns 10 minutos depois de descer pra ir à Task. Desanima um pouco, mas tá na lista, vou testar semana que vem. O ideal seria ter bicicletário na estação, Patrus até prometeu isso na campanha de 2012, mas a gente elegeu Márcio Lacerda, que, sobre transporte público, só diz que 'a culpa é do usuário, que tem que escolher outro horário pra pegar ônibus vazio'...
4 - Frescão: A recém-lançada linha de ônibus que promete menos paradas, ar-condicionado, todo mundo sentado e wi-fi. Ótimo pra mim, ir sentado e já poder trabalhar. Ar condicionado não fede nem cheira pra mim, mas se tem, tá ótimo. No seu lançamento, no final de 2012, muita gente reclamou que os motoristas do frescão não respeitavam os pontos estabelecidos, que o ar condicionado não funcionava, que a rede sem fio era terrível.
Já adianto que não engrosso o coro dos que reclamam de prefeitura lançar 'ônibus de rico'. Claro que não pode ser só o 'de rico', enquanto os outros são horríveis e lotados, mas dar muitas opções é o melhor cenário. Dese que fui a Porto Alegre, no início dos anos 2000, e vi que lá havia várias opções de ônibus, vans etc pra todos os gostos e bolsos, achei que deveria ser assim em todo lugar.
Enfim, experimentei hoje, 04/01/2013, sexta-feira, mês de férias escolares, o Frescão. Abaixo, o itinerário informado da linha SE01 (Cidade Administrativa-Savassi) no site da BHTrans. Escolhi caminhar até o número 2101 da Cristiano Machado (moro na altura do 2500).
Começamos mal (ou bem, dependendo do ponto de vista): o ponto não está no número 2101 da Cristiano Machado, e sim em frente à Graffite Automóveis (número 2409). Descobri lendo as placas nos pontos onde passava, porque li esta reclamação à época do lançamento da linha. E o problema permanece... só pra constar, foto do ponto de ônibus, com nossos típicos problemas urbanos: o sujeito mal-educado que estaciona na calçada E em ponto de ônibus, e a perigosa fiação ("CEMIG, a melhor energia do Brasil") caindo do poste a menos de 1m de altura.
Noves fora essas primeiras tosqueiras, esperei só 3 minutos (descobri já dentro do ônibus que ele passa de 30 em 30 minutos entre as 8 e as 17 - 20 em 20 de 7 às 8 e de 17 às 19, acho, não me programei, foi por acaso mesmo). Primeira impressão ótima: ônibus vazio (6 pessoas, número que chegou a apenas 8 quando desci. Ninguém usa ou é por causa das férias?), bancos com estofado bonito, novinhos, ar condicionado excelente, tudo muito limpo, bonito, uns monitores de TV com notícias e informações e wi-fi muito boa. Sensacional, mesmo sabendo que o custo já estourou minha previsão e que vou ter que andar um tantão ao chegar ao centro.
No Centro, a parada no lugar certo: Afonso Pena com Álvares Cabral, e uma boa caminhada até a Task. Saldo da história: Saí de casa 8:15, cheguei ao ponto 8:22, peguei o frescão 8:25, cheguei ao centro 8:40, cheguei à Task 8:59. 44 minutos (sendo 15 no ônibus e 26 caminhando), R$ 5,30. Nesta época de férias eu estou levando menos de 20 de carro, e gastaria R$ 2,80. Isso só mostra como ônibus é caro em BH... como pode você andar de ônibus lotado (no caso do convencional) e ainda gastar menos que ir sozinho de carro?
Pra mim não rola, mas ressalto que é PRA MIM. Achei uma excelente e confortável opção tanto pra quem vem de mais longe, pros lados da Cidade Administrativa, quanto pra quem vai pra Savassi. Abaixo, a foto do bonitão logo que desci.
Semana que vem, falo sobre a saga do metrô. Como não tem bicicletário, vou de carona com minha esposa até o Minas Shopping.
Um comentário:
A falta de conexões entre os modais de transporte é um problema grave em Belo Horizonte. As ciclovias não respeitam esse conceito, e exceto os casos onde o sujeito mora próximo do trabalho, ciclovia é apenas diversão de final de semana, durante os dias úteis só gera transtorno com o estreitamento de ruas e eliminação de vagas de estacionamento.
Os ônibus de Belo Horizonte são uma piada, até uns dez anos ainda tínhamos ônibus com suspensão pneumática e transmissão automática, mais conforto, mas agora só temos esses ônibus de suspensão convencional e motor dianteiro, péssimos. Praticamente, caminhões com carrocerias.
A comparação direta entre preço de tarifa e consumo do automóvel é injusta com o transporte público, há de se contabilizar a manutenção, seguro, estacionamento, impostos e riscos de colocar um carro particular na rua. Mas é um cálculo mais complexo, alguns não conhecem e vão de carro, outros conhecem e vão de carro assim mesmo.
A culpa dessa merda toda, é meio do cidadão, meio do poder público, que deixou a situação chegar em um nível absurdo como o atual.
Ps.: Bicicletários em todas as estações do metrô, assim como estacionamento de carros particulares, estão previstos no edital da Metrominas. Vai sair.
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