Nunca na história desse país um presidente foi tão homenageado em blogs e nas redes sociais em sua saída. Por isso, já que é lugar comum, vou me atrever a também deixar aqui minhas palavras para o maior presidente da história do Brasil.
Lula, conheci você em 1982. Eu tinha só 10 anos, e recortava da Veja (perdoem-me, eu só tinha 10 anos) todos os quadros e gráficos das pesquisas de intenção de voto nas eleições estaduais daquele ano, colava em um caderninho.
'Torci' naquele para o Brizola, no Rio, em primeiro lugar (acompanhava tudo do Rio por causa do meu Mengão), para o Tancredo em Minas, e gostei daquele barbudo que disputou (e perdeu, como tantas outras) a eleição em SP.
Também em 1982 aprendi, ainda sem saber que viria a ser conhecido como PIG, como a imprensa distorcia e manipulava. A Globo fazia campanha aberta contra Brizola, não me lembro bem como foi, a apuração foi fraudada (help me Google), mas ele venceu, e neste dia eu escolhi meu lado. Seria eternamente socialista, contra os poderosos que manipulam as informações e o povo para conservar seus privilégios. E passei a detestar a Globo.
Depois disso veio a campanha pelas diretas, em 1984, e lá estava Lula, junto com Ulysses Guimarães e Brizola, liderando o movimento que, se não foi bem-sucedido a ponto de votarmos para presidente naquele ano, sepultou definitivamente a ditadura, mostrando a vontade popular de votar, aquele comício das Diretas, sei lá, um milhão de pessoas, eu vendo pela TV lá em Lajinha-MG, 12 anos de idade...
Pulo para 1989. Já na universidade, ainda que sem participar de movimento estudantil, era um ativista pró-Brizola. Só usava camisa do Brizola, boné do Brizola, lia livro do Brizola, filiei-me ao PDT, participava - morrendo de vergonha, sempre tive vergonha de entregar papel e falar com desconhecidos - de atividades de rua. Meu pai também era Brizola, o Banco do Brasil todo era, havia um sentimento de que ele era o cara pra nos salvar dessas oligarquias dos Agripinos e Sarneys que até hoje mandam no Brasil.
Mas, por muito pouco, quem foi para o segundo turno naquele ano contra Collor foi o 'sapo barbudo', como Brizola se referia a Lula. E tivemos que engolir o sapo barbudo. Todo mundo virou Lula, foi bonito demais, a campanha mais bonita da história. Todos os estudantes, todos os professores, todos os artistas da TV, todos os músicos - quase todos, havia alguns corajosos pró-Collor.
Veio toda a manipulação na TV pela Globo, quando Lula já aparecia tecnicamente empatado com Collor a poucos dias da eleição, tendo saído de uns 17% pra 41%, e Collor caído de mais de 50% para 42%. Essa história vergonhosa todos já conhecem e, mais uma vez, patrocinada pela vergonhosa Rede Globo.
Daí em diante minha vida sempre tinha o Lula. O cara persistente, líder nato, perdeu de novo em 1994, nem tínhamos muita esperança, mas ele tinha que ir lá marcar presença. Em 1998 a mesma coisa, FHC tinha comprado o esquema da reeleição, tinha manipulado o dólar e a economia para criar uma falsa sensação de bem-estar (que, como todos sabemos, explodiu no ano seguinte, que o levou a um segundo mandato tenebroso e, ao fim, com justos 74% de reprovação popular).
Eu ficava pensando se não era hora de Lula desistir, voltar a ser deputado, ajudar o Brasil de outra maneira. Mas não, acabava a eleição e já sabíamos que ele ia ser candidato de novo, e começávamos a produzir os adesivos tipo 'Feliz 1999' em 1994, e assim por diante. Paralelo a isso, ficava feliz aqui em BH, porque em 1989 Lula teve 69% contra 31% de Collor, elegemos Patrus, Célio de Castro, Fernando Pimentel... e TODAS as vezes que Lula vinha a BH eu ia vê-lo, em caminhadas ou comícios.
Em 2002 não tinha jeito, era o ano do cara. FHC e seu PSDB em baixa, um governo horroroso, tinha que ser aquela hora. Neste ano me filiei ao PT. Nunca tive nenhuma participação 'orgânica', não conheço nenhum político, só fui lá no diretório umas 10 vezes na vida, só pra buscar material de campanha. Mas tenho orgulho da minha carteirinha, de ser filiado.
Vencer não foi fácil, o PIG com as garras de fora, Veja e Globo fazendo campanha (não tão descarada como foi a de 2010, mas faziam), Lula não tinha nem um terço do espaço que davam a Serra, mas era nossa, não iam tomar. Foi sensacional acompanhar a apuração, todo mundo na rua, eu com Marquim meu sócio, gravamos CD com as músicas do Lula, ficávamos escutando no carro. Inesquecível. Como foi a posse de Lula, eu em Alcobaça-BA, a galera na praia, eu em frente à TV vendo aquele cara chegando à rampa... inesquecível, um monte de coisas inesquecíveis. (atualização, achei a foto, taí embaixo)!
A partir daí, pela primeira vez, eu não seria oposição. Seria mais fácil me 'desligar' um pouco, mas fiquei firme, já tinha internet, blog, etc, defendi o governo todas as vezes, em todos os papos, conversas de família e de botequim, mesmo na dureza que foi o 'mensalão' de 2005. Chegou 2006, Lulão fodão, mais uma vez achávamos que não tinha a menor chance de perder, mas o PIG se esforçou, arrumaram uma montanha de dinheiro dos aloprados pra tirar foto um dia antes do debate, depois Lula fez a cagada de não ir ao debate, Globo ficava filmando cadeira vazia, foi pro segundo turno mas... nós e Lula demos uma surra em Alckmin (coitado)
Então o segundo mandato de Lula foi o de recordes: recorde de emprego, juros (ainda altíssimos) em queda, economia bombando, pobres saindo da miséria, universidades e CEFETs sendo construídos, reservas lá em cima, credibilidade internacional. Uma festa total. Oposição perdida, orgulho cada vez maior de ter ajudado a colocar esse cara lá. Enfim, não cabe ficar falando aqui das realizações do governo. Elegemos Dilma baseados nestes indicadores que não podem ser contestados.
Lula foi melhor que o PSDB em TODOS os aspectos, Lula foi o maior presidente da história do Brasil, Lula sai com 87% de aprovação, número que NENHUM outro político terá.
Escrevo isso porque estive ontem na casa de amigos das antigas, rolou um VHS de um churrasco no interior, 1990, todo mundo lá tomando cerveja, tocando violão, e eu com camisa do Brizola/Lula (camisa do segundo turno). No dia seguinte, mais churrasco, eu com outra camisa do Lula.
É, Lulão, valeu. Espero sinceramente que você continue na ativa, mas também acho que, por ter virado um mito, você só tem a perder se quiser voltar. Mas tá no seu sangue, você é povo, não vai ficar só dando palestra na Sorbonne...
Com você, Lula, aprendi o que é povo, por que devemos lutar pela igualdade social, pelo fim da miséria. Você falava lá, desde 1982. Teve a chance de fazer o que falava. E não nos decepcionou. Você fez o que a gente esperava, Lula. Falta muito ainda, mas o fato de termos colocado Dilma lá significa que seu projeto que mudou o Brasil vai continuar.
Não é mais meia dúzia de donos de TV e jornais que decidem o nosso futuro. O Brasil agora é grande, o mundo inteiro reconhece e nós sabemos disso, nos orgulhamos, vamos pra frente, graças a você e graças ao povão.
Cazuza queria uma idelogia pra viver. Lula me deu uma: a busca incessante pela justiça social, único caminho para engrandecer o Brasil e colocá-lo onde merece. E a lição da persistência.
Porra, Lula, valeu demais!!!
Pra encerrar, segue o belo vídeo que o meu amigo 'quantotempodura' fez para homenagear O CARA: