Sabadão pós-massacre-germânico com minha preta e a família dela. Como sempre, papo agradabilíssimo, conviver com gente inteligente é um privilégio!
Depois de vários assuntos superficiais, que incluíram o sogrão ir lá no balcão perguntar como funcionava a tal 'máquina de servir taça de vinho' que a Miolo instalou no restaurante, mas ainda não funcionava (eu sempre tenho curiosidades assim, mas fico com vergonha de ir lá perguntar. Seu Zé Carlos não: ele vai lá e estuda tudo, peguei carona e já ganhei o dia).
Em determinado momento, depois de um daqueles intragáveis Emmerrrrsssonnn Nogggheeeirah que estragam clássicos de Deep Purple a Xuxa, começou a rolar nas TVs do lugar um 'acústico' do Zé Ramalho. Sogrão já pergunta, sem olhar: 'É Zé Ramalho?'. E aí dispara, com sua curiosidade interminável: 'Quanto será que um cara desses ganha?'
Aí comecei a desfilar meu rosário anti-jabá-Jovem-Pan-Faustão-etc, em que um cara como ele (no meu entender) toca pra sobreviver e, se ganha grana, deve ser com direitos autorais, artista de verdade rala pra caramba, etc, daí o papo seguiu para o ECAD, como se cobra, quem recebe, etc. Nenhum 'especialista' no assunto (palavra, como dizemos, utilizada pela grande mídia quando convoca um idiota qualquer para dar uma opinião que ela quer ouvir), mas uma curiosidade baseada no bom senso que moveu o papo por um tempo.
Terminado o papo e começado o almoço, ouço o garçom atrás de mim cantarolar a música do Zé Ramalho. Fico satisfeito, olho em volta em boa parte deles está cantando. E me desperta então outra curiosidade: pô, os caras gostam de boa música. Que preconceito achar que eles só gostam de Molejo, Edson & Léo & Menotti, Jota Quest e Katinguelê.
Não deu mais tempo, porque aí a discussão ia cair para a questão de mídia-política, e minha preta costuma me censurar quando eu me empolgo com isso em público. Mas ficou uma questão que, no fim das contas, me motivou a recriar o blog e lançar sempre uma nova discussão, pra valer a pena ter um blog:
Qual o papel da mídia na disseminação cultural? Ninguém nega que 'música popular' é aquilo que a maior parte do 'povo' gosta. Mas de onde vem essa música, como eles ficam conhecendo? Vi um dia desses a praça da Barragem Santa Lúcia lotada para a apresentação da filarmônica de Minas (não é esse o nome, é parecido, desculpem minha ignorância). Fiz questão de ir, levar os filhos (sob protesto deles, porque educação musical é educação e é dever de um pai) e foi ótimo, até eles, discretamente depois, comentaram sobre qual música gostaram, etc. Programão. De graça. Bom demais!
Então por que a Globo não toca boa música, mesmo com interesses financeiros, tipo 'toco você e me dá 90% do que o disco vender'? Sem problemas, é uma empresa privada, visa o lucro, é assim mesmo, não está em discussão.
A discussão é: por que só tocam LIXO? Se as músicas do Faustão e das novelas vai necessariamente se propagar e tocar no Brasil todo, qual o problema de tentar bons músicos?
Não me venham com esse papo elitista de tucano de que o 'povo gosta é disso mesmo', 'povo gosta de porcaria', 'arte e boa música é pra poucos', até porque boa parte dos jovens que conheço, dos 15 a 30, de todos os níveis socioeconômicos, escutam o mesmo lixo.
APOSTO que se tocasse Eric Clapton na novela, ou uma mais cadenciada do Deep Purple, Rush, todo mundo ia ouvir, ia ser legal. Por que todo programa esportivo ou de aventura tem como música de abertura/vinheta um rockão pesado, mas na hora da novelinha e do programa de auditório só tem axé-breganejo?
Por que mocinhas e 'universitárias' cantam a plenos pulmões músicas de mau gosto interminável, elogiando sapinhos que moram na lagoa ou exaltando as mulheres que tomam porrada dos namorados nas músicas de 25-cent? Quem um dia estabeleceu que isso é bonito? Pô, anos 70 deviam ser bem mais legais... :)
É como votar ou parar de jogar lixo no chão: tem que ser educado pra isso. Por que não começar isso com música? O que a Lady Gaga tem que a Amy Winehouse não tem?
E aí? O povo gosta de música ruim porque o povo é ruim ou porque empurram música ruim pra eles? Pra mim é a opção 2, e pra você? Manda aí, Hagi, sem palavrão!